FAUP
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
A participação da FAUP reflete o compromisso contínuo da escola em alicerçar a sua identidade a partir de uma grande proximidade com o real. Esta convicção é visível não só pela presença de diversos professores que conciliam a docência com a experiência profissional de arquitectura, ou com a investigação, mas também, e especialmente, pelo espaço de ressonância das preocupações dos estudantes, e consequentemente da sociedade, que têm vindo a ganhar expressão particular nos temas, livremente propostos, das dissertações de mestrado e teses de doutoramento.
Para além de diversas propostas de trabalho integradas em Unidades Curriculares de vários anos e âmbitos de estudo, a FAUP centra a sua participação através da iniciativa Mais do que Casas: Liberdade, Pluralidade, Prospetiva. Tendo como referência a experiência do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) no Porto, na qual os estudantes e professores do curso de Arquitetura participaram ativamente, é organizado um workshop de 14 dias em que mais de 600 estudantes (FAUP, FBAUP, FCUP e FLUP), docentes e investigadores de várias áreas disciplinares, organizados em 44 ‘brigadas’, cada uma com estudantes de vários anos, para projetar o que poderá ser o futuro da habitação nos próximos 50 anos.
A iniciativa inclui um conjunto de conferências, mesas-redondas, debates, apresentações, concertos e filmes abertos ao público em geral, assim como um programa organizado pela Associação de Estudantes da FAUP/Coletivo Parte que integra, entre outros eventos, o ciclo de conversas à hora de almoço Comensalidades.
Ideas
Mais do que Casas:
Liberdade, Pluralidade, Prospetiva
Luís Soares Carneiro, Marta Rocha, André Santos
'Mais do que Casas: Liberdade, Pluralidade, Prospetiva' procura, mediante a focagem num conjunto de zonas-problema da cidade do Porto, recolocar a atenção dos estudantes da UP, e em especial da FAUP, nas questões concretas do urbano, do social, do cívico, não como temas abstratos mas antes como problemas sentidos e observáveis na realidade quotidiana e num contexto global de amplas transformações e crise climática.
Organizado em ateliers verticais, formando grupos de Estudantes integrando membros de todos os anos do curso, onde igualmente se integram docentes/investigadores de qualquer área científica, pretende-se, através da aplicação e desenvolvimento de processos e metodologias a selecionar e estabelecer especificamente por cada grupo, observar, registar, analisar, propor, mudar, modificar, intervir nas situações objecto de estudo, atendendo ao presente e perspectivando o futuro.
Importa que os grupos reflitam sobre as questões do Direito à Cidade, do Direito à Habitação, do Direito à Participação, mas no efetivo contato com os problemas e com a população, de modo integrá-los nos seus interesses e prioridades como condições necessárias do exercício disciplinar. Mais ainda importa que considerando a data de 2074 — o centenário do 25 de Abril — se visem os cenários, as soluções e as possibilidades que a prospectiva permite, ensaiando ideias e caminhos para atingir um futuro melhor para todos.
Em paralelo com a Unidade de Formação Contínua, estão previstos um conjunto de eventos a decorrer nos finais de tarde, com entrada livre: Conferências, Debates, Apresentações, Música e Cinema.
Programa e mais informações: 'Mais do que Casas: Liberdade, Pluralidade, Prospetiva'
Mais do que Casas, do detalhe ao território: Dissertações de Mestrado
Carla Garrido de Oliveira, Ana Alves Costa
UM MANIFESTO DA ARQUITETURA À INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
Ana Sofia Loureiro (estudante)
Clara Pimenta do Vale, José Pedro Sousa
Ao longo da história, a Arquitetura acompanhou a evolução e o progresso da Humanidade, sistematizando novos sistemas de construção, com o propósito de encontrar uma resposta às reivindicações de cada tempo. É indiscutível que a Arquitectura do século XXI enfrenta grandes desafios económicos, sociais e ambientais, tais como um considerável crescimento populacional, o elevado consumo de energia, o aumento das emissões de gases com efeito de estufa, a inflação, a escassez de mão-de-obra e, essencialmente, a perpetuação da pobreza em todo o mundo. O aumento da procura de Habitação digna, para além da ânsia de melhoria das condições da Habitação já existente, consagra à Arquitetura uma aproximação à Industrialização da Construção, de modo a racionalizar-se e mecanizar-se progressivamente, utilizando unidades pré-fabricadas produzidas em sistema industrializado. Esta investigação está acoplada à experiência do passado, com o estudo da pesquisa técnica de arquitetos como Jean Prouvé, Mies van der Rohe, Walter Gropius e Le Corbusier; e complementa com aquele que é o contexto atual da Arquitetura, através do trabalho desenvolvido por arquitetos como Samuel Gonçalves (Summary), Francisco Adão da Fonseca (Oficina Pedrêz) e Alejandro Aravena (Elemental). A partir deste estudo, conseguem compreender-se um conjunto de princípios fundamentais - a vontade última desta investigação -, que consolidam a importância da pré-fabricação para dar uma resposta concreta às exigências da promoção inclusiva de Habitação do século XXI, através de uma redução no trabalho manual e no tempo, que aumenta a qualidade laboral e favorece o rendimento ótimo. Ainda assim, a pré-fabricação afirma-se como a possibilidade de obter melhores custos e uma melhoria do padrão das Habitações, ao mesmo tempo que pressupõe uma formulação atenta às necessidades evolutivas dos habitantes e das suas respetivas famílias, devido ao caráter repetitivo a que os sistemas pré-fabricados estão associados. Embora a seriação seja associada a estes sistemas, eles combinam também com a padronização dos comportamentos sociais do habitar, ao mesmo tempo que permitem a sua criação espacial deliberada e individualizada, o que requer um “conhecimento dos modelos de organização de vida, o estudo minucioso das necessidades, e sobretudo a consciência da extraordinária mobilidade dos modos de vida nas sociedades em transição.”* Por esse motivo, algumas destas preocupações podem transferir-se da escala de um sistema construtivo para a escala da Habitação, do Bairro e até da Cidade.
*PORTAS, Nuno, Industrialização da Construção – Política Habitacional in Análise Social, ISCUL: Lisboa, vol.2, n.o5, 1964, p.98
TERRITÓRIO(S) DE FRONTEIRA, LUGAR(ES) DE ENCONTRO
Patrícia Reis (estudante)
Carla Garrido de Oliveira, Filipa Guerreiro - FAUP
Alfonso Bertran, Lucía Escrigas - Fundación RIA
Habitar os territórios de fronteira é estabelecer espaços de encontro. Procuramos as experiências de cooperação transfronteiriça nas comunidades raianas do Norte de Portugal e da Galiza, para além das fronteiras físicas, políticas e metodológicas.
Em lugar concreto, no antigo ‘Couto Mixto’, questionamos o impacto da fronteira na gestão dos recursos, na organização urbana e da comunidade, explorando a presença de um limite na paisagem humanizada, no habitar contemporâneo e futuro.
As comunidades raianas transmitem as estratégias, nunca homogéneas, do ‘salto’ necessário para ultrapassar o limite e a fronteira imposta, com ‘pontes’ e ‘portelas’ seculares. Na fronteira luso-hispânica, a mais antiga da Europa, encontramos situações de ambiguidade, com privilégios, liberdades e dinâmicas muito particulares, destacadas no Tratado de Limites (1864), que pretendia pôr fim aos lugares de governação ambígua, com indefinições na linha de fronteira; contudo, hoje procuramos recuperar a resiliência, a resistência e a vizinhança de outrora, nas políticas fronteiriças implementadas.
Mapeamos os espaços de fronteira em diversas escalas, procurando o equilíbrio dos diferentes lugares e tempos, em territórios outrora marcados pela defesa do limite administrativo nacional, também lugar de refúgio de foragidos, e que atualmente a sua Unidade Territorial Estatística os configura como lugares legíveis e elegíveis para os programas europeus de coesão territorial. A metodologia e ferramentas privilegiam a análise do território local, das estruturas urbanas, das dinâmicas da comunidade e da sua história, em colaboração com a Fundação RIA.
Procuramos o desenho integrado, nos territórios transfronteiriços rurais, perspetivando um futuro coletivo intersocial, intercultural, inclusivo e sustentável.
Viajamos entre lugares e tempos, na procura dos lugares de encontro, em territórios de fronteira.
intervenção PRÓXIMA intervenção
Frederico Catarino (estudante)
Edgar Brito, Carla Garrido de Oliveira
A PRÓXIMA surge como uma provocação irónica perante a atual situação vivida por estudantes e jovens adultos, no que toca ao acesso à habitação digna. Inicialmente pensado como um conjunto de 3 a 5 estruturas instaladas na rede urbana da cidade do porto, com o intuito de explorar uma multiplicidade de tipologias e modos de habitar, acaba por se tornar uma única intervenção performativa, onde se reúnem todos os esforços do projeto. Habitada tanto por estudantes como por uma agenda repleta de encontros de caráter cultural e social, a PRÓXIMA traz discussões para um ambiente quotidiano e doméstico, o que resulta numa redução da distância entre docentes e estudantes, promovendo assim discussões mais abertas e menos reticentes. A estrutura física implanta-se nos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, tirando proveito de uma outra estrutura previamente instalada e que delimita a “casa”. Dentro deste espaço é desenhada uma única peça em andaimes multidirecionais standardizados gerando os vários elementos de uma casa: cozinha, 6 alcovas, área de arrumos, sala de estar.... Ademais, é criado um pequeno duche exterior e uma área de lavatório adjacente, onde o acesso à água é facilitado através de 3 jerricans. Como espaço central destaca-se uma grande mesa/palco onde tudo se concentra, mesa que se projeta na casa, que se projeta na faculdade, que se projecta na cidade...
O fator performativo do projeto acaba por se materializar pelo ato de habitar em espaço público.
De portas abertas e convidativas à comunidade, a PRÓXIMA cria paisagens domésticas partilhadas num espaço anteriormente suspenso e à margem, induzindo a comunicação e troca de ideias em outrora estranhos.
O QUE MUDAVAS NO RGEU?
Ana Pontes (estudante)
Edgar Brito
A dissertação procura uma análise antecipada do cenário legislativo tendo em conta a revogação do RGEU em junho de 2026. O desenvolvimento do trabalho integra, entre outras iniciativas, a realização de uma exposição. Através da colaboração de diversos ateliers, de diferentes escolas e gerações, pretende-se iniciar um debate sobre o que será este novo Código de Construção, incentivando a participação académica e profissional na reflexão das futuras normativas e diretrizes na área da Arquitetura.
'Exposição 'O que Mudavas no RGEU?'
REABILITAÇÃO DA ANTIGA FÁBRICA DA CHEMINA EM HABITAÇÃO
Joana Barreto (estudante)
Graça Correia, Teresa Calix
Atualmente, a cidade que se pensa como espaço para todos, onde se encontram e incluem várias gerações, tem vindo a excluir, direta ou indiretamente, parte daqueles que dela fazem parte transformando o que devia ser um local de encontro, num espaço púbico enorme, sem densidade, que se desenvolveu em contradição com as necessidades dos mais fracos. Porém, falar de necessidade, atualmente, é falar, também, de habitação e de uma crise que afeta não só os mais fracos, mas toda a restante população que, no seguimento da carência habitacional do país, implora uma resposta.
A cada dia que passa, cresce a necessidade urgente de reinventar a arquitetura para responder às questões atuais, quer da longevidade, quer da falta de condições dignas de habitação. No seguimento disto, nasce a vontade de contribuir com uma resposta para os problemas mencionados, através de um olhar crítico sobre Alenquer, onde se desenvolve o caso de estudo. Como resultado, constrói-se o objeto do trabalho proposto, que se desenvolve na área envolvente ao edifício da centenária Companhia de Lanifícios da Chemina, cuja escolha se justifica, justamente, pela memória que este guarda e pela falta de previsões de futuro para o mesmo. Assim, olhando para as diversas questões apresentadas, a proposta une-se através do tratamento do espaço envolvente à antiga fábrica, na criação de um ambiente possível de ver realizado diferentes atividades humanas, e na reabilitação do edificado num programa de habitação coletiva e intergeracional que procura responder a três questões: Como reabilitar uma ruína industrial num espaço necessário e revitalizar o seu valor histórico? Como promover habitação? Como dinamizar a relação de jovens e idosos numa tentativa de combate à solidão e isolamento?
“A Urbanização da Pobreza” na FAUP: debatendo a produção do espaço
Álvaro Domingues, Ana Silva Fernandes
Perante as mais recentes e contrastantes dinâmicas globais de urbanização, pretende-se com esta unidade curricular criar um campo de discussão teórica e prática em torno da espacialização da pobreza e das disparidades no processo de urbanização, das preocupações sociais no campo disciplinar da arquitetura e do urbanismo, assim como das limitações e potencialidades das políticas redistributivas, de interesse social e de gestão equitativa do ambiente construído. Nesta edição de 2023-24, esta unidade curricular enquadrou-se também no programa “Mais do que Casas”. Pretendeu-se, portanto, estabelecer um entendimento alargado das questões relacionadas com o processo de urbanização e de produção da habitação em diferentes geografias e contextos, através não só da discussão de condições extremas de disparidades e/ou limitação de recursos, mas também do debate sobre a visibilidade e o papel das faixas populacionais de menores rendimentos económicos, assim como do enquadramento em mecanismos de gestão de múltiplos atores, colocando o arquiteto/urbanista no papel de mediador e facilitador. Assim, tendo como base os temas da unidade curricular, assim como o enquadramento neste programa, esta unidade curricular promoveu diferentes olhares sobre o tema da habitação, debatendo a diversidade de perspetivas e intervenientes (através de exercícios de ‘role-playing’), analisando desafios reais (através de visitas na cidade do Porto) e discutindo metodologias, instrumentos, constrangimentos, potencialidades e experiências de intervenção (através da análise crítica de projetos habitacionais, no seu processo e impacto).