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Housing

FA-UL

Faculdade de Arquitectura Universidade de Lisboa

© Dogma, Fondamenta, Waterfront and Affordable Housing in Helsinki

No quadro do programa Mais do que Casas a Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa mobilizou vários docentes e mais de 300 alunos para se associar a esta iniciativa.
Assim sendo, considerando a abrangência dos temas suscitados pelos textos dos convidados deste programa, estarão envolvidos 3 dos grupos de trabalho dos alunos finalistas do mestrado de arquitectura, que abordarão temáticas diversas, que vão da constituição de comunidades cooperativas, à visibilização do habitar social em lugares sob pressão dos fenómenos da gentrificação ou turistificação, até a uma reflexão crítica e propositiva sobre os desafios contemporâneos da habitação e do espaço público na construção de uma sociedade intercultural e de promoção da cidadania global.
Estes temas, enquadrados nas questões sucitadas pelos '7 visões', servirão de base para o desenvolvimento dos trabalhos preliminares das suas futuras teses de mestrado, contribuindo com a sua reflexão e projetos para o debate colectivo que se pretende constituir, através de uma investigação coordenada por cada um dos docentes, autores do enfoque dos temas globais de investigação.
Para além disso, estará também envolvido todo o grupo de alunos do último ano da Licenciatura em Arquitectura que, através de um trabalho de natureza crítica, igualmente inspirados pelos temas do programa Mais do que Casas, criará as bases para, em articulação com estudantes do departamento multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, produzirem um trabalho integrado que representará o resultado desta reflexão crítica/artística, assumindo-se como uma participação conjunta na exposição final do programa.
Através da investigação transversal por todos estes estudantes de diferentes anos lectivos, enquadrados pelos seus docentes, A FA-UL propõe-se assim, tal como refere o programa, integrar o debate contemporâneo sobre os desafios da habitação e do espaço público na construção de uma sociedade intercultural e de promoção da cidadania global, no quadro da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, à qual se associa.

Ideas

ARQUITECTURA E IDEOLOGIA Sobre a possibilidade de um devir sustentável: imaginação do suporte
vivencial para a constituição de uma comunidade (Montemor, Alentejo)
– a Estação Cooperativa de Casa Branca

Daniel Maurício Santos de Jesus

O exercício a desenvolver propõe a imaginação e a reabilitação do suporte vivencial e habitacional na aldeia ferroviária de Casa Branca (Montemor-o-Novo, Alentejo), no contexto (ainda) aberto e dinâmico da constituição da cooperativa comunitária Estação Cooperativa de Casa Branca – acção a inscrever e a problematizar criticamente no âmbito da plataforma académica Mais do Que Casas. Casa Branca, localidade estereótipo da desertificação do Alentejo, com património industrial abandonado, escolas fechadas e casas desabitadas, com cerca de 80 habitantes e uma estação ferroviária ativa que já não atrai trabalhadores nem fixa habitantes, figura-se aqui com a finalidade didáctica e apresenta-se como cenário potencial para a imaginação de novos modelos de revitalização de assentamentos rurais e de resiliência territorial.  Como metodologia, adopta-se uma estratégia teórica e crítica que inscreve a prática do Projecto enquanto resultante da interpretação de um contexto económico, social, político e ambiental – referidas estas dimensões aos determinantes material e imaterial, que se reconhecem definidores de uma “ideia de Presente”. Para o efeito, promove-se a importância de recorrer a sistemas interpretativos conotados ideologicamente, o que de algum modo se afigura disruptivo, ou antitético, face a uma pressuposta neutralidade no uso dos instrumentos de projecto: ou seja, contraria o emprego apolítico de metodologias projectuais nas unidades curriculares de Projecto, ao abrigo de uma pressuposta autonomia artística, técnica ou disciplinar. O projecto, a concretizar na unidade curricular Projeto Integrado III, no 1º semestre de 2023/24, ramifica depois como base teórica e conceptual para o desenvolvimento de Trabalhos Finais de Mestrado (conducentes à atribuição individual do grau de Mestre). Será ao abrigo de tal propósito que tratará de encorajar um enfoque nos desafios prefigurados no século XXI, de modo a desafiar – à luz das circunstâncias presentes – a prática dirigida à produção de arquitecturas, incorporando matérias que hoje! se impõem como relevantes.

A Jangada de Pedra

Jorge Mealha

Desde tempos imemoriais que o território a que hoje chamamos região de Lisboa tem sido um sítio privilegiado para assentamentos e atividades humanas. Um conjunto quase único de características tectónicas e naturais realça uma relação equilibrada entre colinas e vales, proporcionado um território diversificado de lugares correlacionados entre si e preponderantemente orientados para o belo e inconfundível estuário do rio Tejo. O século XX, mercê da intensidade e voragem da economia industrial pesada que se registou um pouco por todo o globo, originando inclusive a passagem ao Antropoceno, altera também em Lisboa esta relação contínua e natural entre a cidade e o rio. Que é fortemente afectada. Com efeito, ao longo do Séc. XX a orla ribeirinha da cidade de Lisboa é gradualmente afectada por um processo de industrialização, que se revela sobretudo pela construção de uma série de complexos industriais ao longo da sua extensão (refinarias, fábricas, etc). Este processo interrompe quase na totalidade da sua extensão, a anterior relação natural e directa  da cidade e os vales com o estuário. Os projectos propostos para esta (re)leitura do extremo ocidental do território da Grande Lisboa, na transição entre o estuário e o oceano, serão desenvolvidos enquanto respostas críticas e operativas que têm como objecto o repensar toda a frente marítima entre Algés e a Cruz Quebrada (a chamada 'recta do Dafundo'). A investigação a desenvolver pressupõe “uma reflexão crítica e propositiva sobre os desafios contemporâneos da habitação e do espaço público na construção de uma sociedade intercultural e de promoção da cidadania global”, suportada em programas (sobretudo) de habitação. Partilha, enquanto objectivo estratégico, uma reflexão que procura contribuir para o debate e desafios da contemporaneidade no âmbito dos pressupostos expressos na iniciativa Mais do que Casas.

A CIDADE INVISÍVEL (de Cascais)

Pedro Belo Ravara | Professor Associado, FAUL
Amer Obied | Estudante de Doutoramento (Bolseiro FCT)

Os modelos de habitação, que mesmo muito antes dos anos fatídicos do covid já eram experimentados, referem-se à possível relação de liberdade distributiva, que uma arquitetura que visa a integração social orgânica, solidária à relação interpessoal pelas suas qualidades transpaciais, que não se leem pela objetivação espacial de modelos arquitetónicos celebrativos de institucionalidades diversas, mas por modelos invisíveis recuperados ou reinventados de uma cidade que nos é presente, factual, mas que já não conseguimos vislumbrar pela vontade de obtermos respostas globais. O espaço social presiste nos centros das cidades históricas, mas são hoje continuamente devassados pelo fenómeno acelerado da gentrificação, principalmente na era d.c, através da turistificação em massa dos centros de cidades, supostamente, históricas. Mitigar este fenómeno é recuperar os locais 'invisíveis' da cidade densa, oferecendo-lhe, entre os seus escombros e ruínas, edifícios devolutos, lotes vagos, interiores esventrados, ruturas urbanas e áreas 'esquecidas' pelos turistas, novas 'casas', casas de habitar, onde se dorme e come, mas também casas de encontro de cultura, de atividades, de interesses sobre a política da cidade. Sobre este enunciado, sobre as possibilidades imaginativas das prováveis invisibilidades mitigadoras de um eventual desaparecimento da cultura urbana, os alunos são chamados a olhar para o centro histórico de uma cidade de pequena/média dimensão e a levantar possibilidades de intervenção que relancem a relação entre o espaço da habitação e o espaço social da cidade. Não se trata de habitação social, trata-se de habitar o espaço social da cidade, ou somente, de o tornar visível.

50 PERGUNTAS SOBRE O HABITAR CONTEMPORÂNEO

Jorge Spencer | Alessia Allegri | Tiago Mota Saraiva | Rogério Taveira

Com uma abordagem curatorial não tradicional (É uma exposição? Um evento? Uma provocação?), propomos uma mostra que não pretende ser exaustiva, nem abrangente, mas que funciona como uma narrativa. Uma grande história. O projeto curatorial entrelaça 50 perguntas sobre os lugares em que vivemos. Uma pesquisa sobre o conceito de casa, lar, doméstico e sentimento de pertença. As 50 perguntas apresentadas funcionam tanto como um quadro temático quanto como uma visão das diversas formas da vida contemporânea. Essas perguntas são envolventes e estimulam a imaginação do leitor, incentivando-o a refletir vários aspetos do conceito de "lar". É uma viagem pelos imaginários que transformam as nossas vidas. Uma exposição ampla e colaborativa. Uma narrativa colectiva onde cada um dos envolvidos apresenta a sua própria interpretação da ideia de habitar e que se fará da soma de todos. Os alunos (em grupos de 3/4) irão produzir um livreto A5, que, por intermédio de textos, desenhos, imagens - técnica livre – irá refletir sobre a "sua casa contemporânea". Cada livreto é uma história que fala sobre uma casa e os seus habitantes. Histórias reais ou inventadas. O título do livreto deve ser obrigatoriamente uma pergunta. Este material será posteriormente usado por alunos da faculdade de Belas Artes, com a qual se estabelecerá uma colaboração, para produzir 50 videoclipes. Detalhes de residências, salas, espaços amplos, cores, objetos... um caleidoscópio de indícios e situações que estimulam a reflexão sobre a nossa relação com o ambiente chamado casa. Os 50 vídeos serão montados num "vídeo wall" - uma instalação composta por 50 mini-monitores sincronizados – e que irá constituir parte da participação da Faculdade de Arquitetura juntamente com Belas Artes na exposição. A exposição também estará disponível online nas redes sociais de Instagram através da visualização dos 50 micro-vídeos.