ESAP
Escola Superior Artística do Porto
A contribuição da ESAP ao desafio lançado pelo programa MAIS DO QUE CASAS pretende explorar situações de regeneração urbana, tendo como objetivo a experimentação de modalidades alternativas ao espaço habitacional para responder à crise ambiental e social.
Tendo como base a intervenção em espaços urbanos fortemente marcados pela presença de grandes infraestruturas rodoviárias, serão desenvolvidos dois exercícios de caráter complementar.
Um deles centrar-se-á na requalificação urbana, associada ao redesenho destas infraestruturas viárias que são geradoras de barreiras sociais. Verificam-se ali espaços intersticiais, fragmentos da Terceira Paisagem (Clemént, 2004), terrenos residuais de diferentes formas e dimensões a rearticular na Cidade do Porto. Há que os potencializar. Além de poderem constituir um potencial recurso para o sistema biológico e ambiental do planeta, estes espaços configuram, de facto, um território de transformação urbana, a grande reserva de espaço para as cidades do futuro (Lobo, 2023), e matéria prima para a experimentação académica de soluções capazes de proporcionar novas respostas aos atuais problemas da cidade e da habitação.
O outro exercício, será focado na transformação do existente, na procura de respostas não convencionais, na readaptação e na construção do indispensável nos territórios da habitação. O existente e o novo confrontar-se-ão num diálogo aberto que possa favorecer situações inesperadas e novos modelos de utilização dos residentes. Desafiam-se os alunos envolvidos a revisitar o espaço da casa, propondo a mudança qualitativa das condições habitacionais, ensaiando a redefinição dos limites físicos do construído, a reinterpretação do conceito de intimidade doméstica ou a procura de novas relações do espaço habitável com a paisagem e os espaços livres. Desprendidos de condicionalismos normativos, por vezes demasiado obsoletos ou restritivos, espera-se que o resultado decorrente deste exercício possa constituir uma oportunidade experimental e um contributo na resposta à problemática da habitação.
É notório que a questão da habitação necessita de uma abordagem estrutural e conjuntural ao problema da falta de habitação. Há, de facto, questões estruturais no tema da habitação que devem ser necessariamente reequacionadas com o contributo do exercício de arquitetura. Por estarem diretamente relacionadas com a metamorfose do espaço habitável, face ao continuo desenvolvimento da sociedade e do seu atual mal-estar, condicionado pela legislação obsoleta resultante da excessiva dependência do cumprimento das normativas.
Partindo destas premissas, os trabalhos focar-se-ão, assim, na procura de uma resposta ao tema do programa Mais do que Casas regenerando o desenho da cidade.
Ideas
Regenerar o desenho da cidade - Os novos territórios habitacionais
Paolo Marcolin, António Barbosa, Fátima Fernandes
Alba Giménez, Márcio Afonso, Maria de Sousa, Ricardo Fortuna, Vitor Fernandes (estudantes)
Para regenerar o desenho da cidade é necessário, num primeiro momento, perceber e definir os limites urbanos, e compreender de que forma a cidade se poderia metamorfosear e assumir uma nova estrutura urbana, cerzindo o corte topográfico, urbano e paisagístico existente. Atendendo à estrutura urbana e morfológica da cidade do Porto que se apoia no sistema de mobilidade, exigindo que este seja coeso e estruturado, concluiu-se que seria perentório manter o carácter estruturante da comunicação transversal entre o núcleo Nascente e o núcleo Poente da cidade. Contudo, a tipologia desta ligação teria de ser repensada e assumir uma configuração mais próxima da escala urbana e por isso um exercício mais experimental.
Esta transformação será acompanhada de uma reestruturação do sistema viário de 1o nível. Propomos a alteração do tramo da VCI (via de cintura interna) entre a Ponte da Arrábida e o nó da A3, eliminando o perfil de autoestrada e substituindo-o por uma via com características de artéria urbana. Ficará contudo preservada a ligação Norte/Sul no tramo da VCI entre a Ponte do Freixo e a A3, garantindo uma circulação interurbana tangencial à cidade. Assim, a “nova avenida”, que se localiza entre a ponte da Arrábida e a avenida Fernão de Magalhães, ao assumir um perfil desenhado à escala urbana, vai contribuir para uma aproximação hierárquica dos utilizadores do espaço urbano, e para transformar uma topografia e estrutura urbanas numa malha contínua e coesa.
Pensar a regeneração da cidade através da reestruturação do sistema viário existente, desencadeia uma nova leitura sobre os territórios habitacionais existentes, equacionando a sua metamorfização por meio de várias atitudes. Deste modo, este exercício trabalha sobre territórios com características diferentes, que traduz a vontade de atingir a multiplicidade das abordagens: Bairros de casas económicas, Bairros de moradias populares em bloco, Cooperativas e Urbanizações, e Espaços verdes fundamentais.
1. O Bairro de Bessa Leite (1980), com a transformação do programa monofuncional num mais diversificado e inclusivo, com regeneração do espaço público, a reabilitação da habitação e a substituição e construção de novos edifícios com tipologias destinadas aos mais jovens.
2. O Bairro de Francos (1967), requalificação urbanística e transformação da área habitacional paralelamente à adição de comércio e novos acessos, idealizados em torno da transformação da VCI numa avenida urbana arborizada.
3. Bairro da Prelada (1985), um bairro formado por 4 filas de 11 edifícios. Incrementa-se o número de quartos, além de melhorar o design atual, através de uma reforma do espaço interior e uma ampliação do mesmo, graças a uma estrutura externa. A nível urbano, o rés-do-chão deixará de ter caráter habitacional para se converter em áreas comunitárias, equipamentos e serviços.
4. Quinta da Prelada (séc.XVI) - “Arquitetura para desmontar” - estruturas habitacionais de caráter não intrusivo que se inserem e convivem em plena simbiose com a estrutura verde que desenha o novo parque urbano da Prelada.
5. Bairro do Outeiro, Paranhos (1935-66)Interpretação e requalificação da habitação e do espaço público nas imediações do Bairro do Outeiro. Uma proposta de habitação flexível e densa tendo em conta o carácter actual da população local, devolvendo ao tecido urbano a história, indagando as necessidades sociais do futuro.
As estas intervenções apoiam-se na palavra METAMORFOSE que, etimologicamente, vem do grego metamórṗhosis, "transformação", formada pelos radicais, prefixo meta-, "além" + sufixo -morfo, "forma". Esta premissa é o suporte à análise dos espaços intersticiais e do seu potencial uso. Não se pretende intervir neste território, criando um “novo” que seja o reflexo de uma simples observação volumétrica, mas sim, olhar para estes momentos urbanos e conhecer a sua identidade, compreendê-los e senti-los. Traduzir os seus dados arquitectónicos, paisagísticos, urbanos, económicos, sociológicos e culturais em forças, fraquezas, ameaças e oportunidades, procurando intervir cuidadosamente e perceber onde é necessário SUBSTITUIR, REABILITAR ou AMPLIAR recorrendo aos processos de MODELAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, DENSIFICAÇÃO ou SUBTRAÇÃO, com a consciência de que não estamos apenas a criar novos territórios habitacionais, mas que estamos a pensar e a desenhar “MAIS DO QUE CASAS”.