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Encontro 1

07.12.2024 | CCB - Garagem Sul, Exposição 'Habitar Lisboa'

E se todos, ao mesmo tempo, pensássemos sobre o problema da habitação em Portugal? Foi quase isso o que se organizou no dia 7 de dezembro no interior da exposição ‘Habitar Lisboa’ no Centro de Arquitetura | Garagem Sul do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. À primeira Chamada de Ideias do Mais do que Casas compareceram Escolas de Arquitectura, de Artes Plásticas, de Arquitectura Paisagista, de Engenharia. Vieram de todo o país continental. A primeira impressão que se regista do Encontro é a escala, a dimensão e a massa. Grupos de alunos acompanhados pelos seus professores apresentaram os seus trabalhos e também a forma como cada Faculdade entendeu integrar nos seus programas a sua participação no Mais do que Casas. Existe, como seria expectável, uma enorme diversidade de abordagens, mas em comum uma vontade de abordar as questões da habitação de uma forma mais profunda. Sendo verdade que a habitação (individual ou colectiva) é um programa que nunca está ausente dos curricula dos cursos de Arquitectura, foi possível perceber que houve pela parte de todos uma preocupação em considerar o momento concreto que se vive. Por um lado, a consciência da urgência do problema, que deu origem a uma discussão alargada nos meios de comunicação social, mas também a consciência de que este é um tema político (que implicou um programa específico do Governo) e que por isso tem o seu lugar de discussão muito mais próximo das possibilidades de concretização do que da identificação das situações às quais é preciso dar resposta.

O Mais do que Casas foi abordado de formas muito diversas: como um programa vertical presente em todos os anos do Curso ou organizado em torno de um workshop; por aproximação, integrando o seu desafio nos programas de Unidades Curriculares que já abordavam temas próximos destes; por articulação, envolvendo UC’s diversas por vezes em cursos distintos, acolhendo tematicamente o desafio; por desvio, criando uma situação nova nos programas habitualmente abordados. 

De uma forma generalizada foi possível igualmente observar a preocupação em entender a habitação de uma forma muito mais alargada do que a sua redução à investigação sobre modelos tipológicos ou sobre a sua eficiência. Também se discutiram, naturalmente, mas há a percepção das várias dimensões que habitar implica. A relação com a cidade de uma forma mais alargada, seja topográfica, formal, com a dimensão infraestrutural que a condiciona, com as questões que a sustentabilidade ambiental levanta, com os modelos económicos que vão organizando o território. Com a dimensão legislativa e a intervenção que tem na configuração nos ambientes em que vivemos, com os materiais e formas de construção. Cada Escola organiza a sua abordagem em função do meio académico onde se insere convocando o conhecimento a que pode ter acesso o que amplia o âmbito da análise e permite, nem que seja por um momento, retirá-la da sua discussão como um problema exclusivamente arquitectónico e articular o desenho do habitar com o pensamento que sobre ele se possa fazer a partir de várias e diversas origens.

Outra evidência foi perceber que a diversidade geográfica das Escolas trouxe também a correspondente diversidade de situações. Pensar a habitação em ambiente urbano denso, em ambiente rural ou periurbano, em centro histórico, em periferia não consolidada e em crescimento. Pensar o território desocupado, a paisagem. Também há uma grande diversidade de escalas. É possível perceber que havendo princípios condutores, fios comuns, situações próximas, não há soluções universais nem vontade de as encontrar, há sim uma consciência clara de que as questões discutidas têm soluções específicas e elas reflectem o que é habitar um lugar concreto. Num momento em que a política procura soluções universais para um problema tão complexo é importante compreender que os arquitectos a isso contrapõem o entendimento dos lugares para encontrar as respostas que lhes servem.

No final da sessão ficou igualmente a ideia de que esta iniciativa criou uma disrupção que obriga a alguma reflexão. Em primeiro lugar os alunos puderam apresentar e discutir os seus trabalhos com colegas de outras Escolas e outras cidades. Sair por isso de um quotidiano e aceitar perturbá-lo. Só por isso é já um facto relevante para quem esteve presente. Mas o desafio foi também feito às Escolas que se dispuseram ao mesmo, sair de um quotidiano e aceitar perturbá-lo. Encontrar estes lugares de encontro e discussão e formas de participar nas comunidades onde nos inserimos de uma maneira mais implicada e mais consequente. Dificilmente se encontraria para isso um melhor propósito do que celebrar os 50 anos do 25 de abril.

Bruno Baldaia

 

NUCLEO I / Relator Rodrigo Rio, com moderação de Filipa Guerreiro

50 PERGUNTAS SOBRE O HABITAR CONTEMPORÂNEO

FBAUL – Departamento de Arte Multimédia / FAUL –  Rogério Taveira, Jorge Spencer , Alessia Allegri, Tiago Mota Saraiva

O programa conjunto, apresentado pelas duas faculdades, consiste num projeto que expõe um conjunto de 50 questões/provocações atuais sobre o tema da habitação, desenvolvido durante o primeiro semestre, acompanhando a componente prática da cadeira de Projeto 3. Um trabalho de reflexão e partilha que convergiu num booklet com perguntas/inquietações/intrigas.

O trabalho seguirá com os alunos do curso de design da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa que complementarão graficamente os booklets e as redes sociais do projeto. Como trabalho final irão apresentar um vídeo com características experimentais para transmitir a componente crítica que se privilegiou neste trabalho sobre a habitação, através de uma discussão aberta e livre.

 

ATELIER 3C – PROGRAMAS EMERGENTES

EAAD – José Capela, João Pereira

A cadeira de Projeto 5 debruçou-se sobre o tema da habitação. Os alunos investigaram os concursos públicos dentro do tema da habitação, economia e sustentabilidade, onde iriam participar. Para a realização deste trabalho, a investigação incidiu nas práticas diárias das pessoas de diferentes gerações, as suas necessidades e costumes, e como estas se relacionam com os espaços. O concurso de Los Angeles propunha combater o isolamento dos idosos através de um projeto de arquitetura. 

Através das premissas do concurso referido anteriormente, os alunos aplicaram as suas investigações anteriores num projeto em território nacional, cujo objetivo era, para alem de resolver o problema de isolamento dos idosos, também apresentar soluções para a crise de habitação em Portugal. Assim, o projeto procuraria descentralizar, combinar as suas zonas de residência dos idosos com outras gerações, criando várias tipologias, entre o cruzamento e intercomunicação das gerações, nos mesmos espaços comuns.

 

CIDADE-ABRIGO

UFP – Sara Sucena, João Ferreira, Beatriz Vieira, Márcia Monteiro, Maksym Matros

O projeto de intervenção urbanística tem principal foco no problema das pessoas em condição de sem-abrigo, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, pretendendo o contacto direto com pessoas sem-abrigo ligadas à instituição. Assim, entendendo as suas necessidades e dificuldades, procura melhor responder ao problema e proporcionar soluções através da arquitetura.

O projeto Cidade-Abrigo começou por fazer um levantamento dos edifícios abandonados da zona, em paralelo ao projeto de agregação de corredores verdes à cidade, bem como uma requalificação dos seu aquíferos. 

 

ELEMENTOS CONSTRUTIVOS NA HABITAÇÃO.

ADEQUAÇÃO DE MATERIAIS ÀS CASAS DO FUTURO

UA – Ana Velosa

Curso de Engenharia Civil de Aveiro que, dentro do programa ‘Mais do que Casas’, debruçou-se sobre os temas da legislação a nível de construção e de programa e como esta influencia o projeto. A legislação em Portugal foi apresentada como bastante rígida e desatualizada, que impede a progressão de boas propostas de projetos que poderiam resolver alguns dos problemas principais da sustentabilidade e habitação contemporâneos. Foi feita uma intensa reflexão sobre o progresso da legislação e da construção neste sentido.

 

CONSTRUÇÃO OFFSITE, O EDIFÍCIO COMO PRODUTO INDUSTRIAL

FEUP – Bárbara Rangel

Dois cursos que conjugam as áreas da arquitetura e da engenharia e que, portanto, se focam nos desafios da construção. Projetos muito ligados à pre-fabricação, com grande atenção à eficiência energética das habitações.

Foram apresentadas propostas de industrialização e pre-fabricação para resolver os problemas da habitação em Portugal. O trabalho desde o detalhe de programar o processo de transporte, à montagem dos objetos pré-fabricados para reduzir o custo, o impacto, e a pegada carbónica da construção. O projeto culmina numa residência para alunos nómadas.

Foram levantadas questões como: não teremos primeiro de reabilitar o construído antes de construir de novo? Os métodos de pré-fabricação mais rápidos e baratos não vão contra o tema da sustentabilidade?

 

AÇÃO #1 – HABITAR EM REPÚBLICAS

DARQ-UC – Luís Miguel Correia

Os 5 anos do curso de Arquitetura em Coimbra desenvolvem os trabalhos no âmbito das questões ligadas à habitação, seguindo a proposta do ‘Mais do que Casas’. O primeiro ano de projeto focou-se na questão do alojamento estudantil em Coimbra. Foram-nos apresentadas as diferentes formas de alojamento na cidade, desde as repúblicas, a residências universitárias de pequena escala e a conjuntos de habitação tradicionais.

A questão do centro histórico degradado e da importância das residências se centrarem nesta zona foi o proposto aos estudantes. Assim, os alunos são desafiados a perceber as várias tipologias de residência de estudantes e a elaborar uma proposta de um conjunto de repúblicas, pensando assim questões de partilha coletiva de espaços e de habitação.

 

ATELIER 1C – SUSTENTABILIDADE

EAAD – Pedro Bandeira, Margarida Pinho

Na Universidade do Minho, os alunos foram desafiados a combater o esvaziamento do território interior de Portugal através de projetos de reabilitação. Esta reabilitação tinha premissas de sustentabilidade e desenvolveu-se a partir da escolha de objetos arquitetónicos degradados ou desatualizados e consequente processo de reconversão.

Para o desenvolvimento deste trabalho, o contacto com o território foi essencial para a verdadeira perceção do problema e para alcançar as soluções.

 

AÇÃO #5 – HABITAR INTERNACIONAL

DARQ-UC – Joaquim Almeida

O quinto ano do curso de Arquitetura em Coimbra trabalhou sobre um projeto de coliving, onde a intenção é chegar a uma proposta urbana de habitação. Essa habitação vai desde coletiva até estudantil, e desde reabilitação até construção nova.

Existiu uma grande preocupação com o desenho dos módulos de habitação, de modo que fossem flexíveis e que existisse uma grande variedade destes de forma a dar resposta a uma vasta faixa da população. Os espaços comuns devem ser frequentados por pessoas de todas as gerações, e por isso importa perceber como pode a arquitetura ser agente agregador social.

 

RETIRO ESPIRITUAL – ESPAÇO DE CONTEMPLAÇÃO E INTROSPEÇÃO COM ACOMODAÇÕES TEMPORÁRIAS PARA 7 PEREGRINOS

ULL – Filipe Quaresma, Hugo Nazareth Fernandes, Luísa Paiva Sequeira, Nuno Griff

Um trabalho de primeiro ano, onde os alunos foram desafiados a refletir sobre as diferentes formas de habitação, principalmente as menos comuns. O projeto em questão era um retiro e abrigo espiritual no parque de Monsanto. Os alunos tiveram de perceber quais as necessidades e condicionantes de um género de habitação de pouca duração e com pouca infraestrutura.

 

 

NUCLEO II / Relatora Bárbara Rodrigues, com moderação de Luís Tavares Pereira

AÇÃO #3 – HABITAR A MEMÓRIA

DARQ / ISA – João Mendes Ribeiro, Teresa Alfaiate, Leonor Silveira (DARQ), Mariana Abreu (ISA)

Os alunos de Coimbra desenvolvem ao longo do ano uma proposta de intervenção numa zona de caracter industrial na cidade autóctone. O exercício tem como objetivo integrar as premissas de reabilitação, ecologia e circularidade em projeto de arquitetura promovendo simultaneamente o diálogo com outras áreas disciplinares, como a de paisagismo. O programa incide especialmente sobre a premissa da Habitação, procurando questionar a maneira de a pensar e conceber, as necessidades das “diferentes agregações de habitantes (familiares ou outras), podendo constituir células coletivas para diversos utilizadores e/ou células individuais, apenas para 1 habitante.”

Uma questão a salientar é o impacto da demolição, apresentada no enunciado, que revela a preocupação com a sustentabilidade e a coesão no pensamento de projeto, entre a destruição e a preservação de edifícios, para além da estética.

 

ARQUITECTURA E IDEOLOGIA, SOBRE A POSSIBILIDADE DE UM DEVIR SUSTENTÁVEL: IMAGINAÇÃO. DO SUPORTE VIVENCIAL PARA A CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNIDADE (MONTEMOR, ALENTEJO) – A ESTAÇÃO COOPERATIVA DE CASA BRANCA

FA-UL – Daniel Maurício Santos de Jesus

Os alunos do 5º ano da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa debruçaram-se sobre o conceito de ideologia no campo da arquitetura. O docente transmite a preocupação sobre a transformação da vida humana ser superior à capacidade de resposta da arquitetura e questiona o papel da universidade na capacitação técnica dos alunos e na desconstrução daquilo que é a atividade do arquiteto. 

O programa ambiciona dar ferramentas aos alunos de arquitetura para que consigam compreender as dificuldades técnicas de construção e da reabilitação, com alguma bibliografia política e ideológica, compreendendo a sua implicação no campo da arquitetura. Desse modo, os alunos são convidados a desenvolver um projeto urbanístico, a uma escala pequena – de aldeia, na cooperativa da Casa Branca em Montemor. O projeto incide na reabilitação do património devoluto pertencente às Infraestruturas de Portugal obrigando à compreensão daquela comunidade, à história da mesma e da luta da cooperativa para adquirir os imóveis inseridos no programa. Os alunos são também convidados a participar na reabilitação em curso de alguns imóveis na área de estudo, a desenhar mobiliário urbano e a envolver-se ativamente na vida da comunidade, com almoços na cozinha comunitária, e partilhando algumas atividades domésticas da cooperativa.

 

ATELIER 3A – ESPAÇO PÚBLICO

EAAD – Ivo Oliveira, Luís Encarnação

A proposta dos alunos da EAAD passa por pensar propostas de convivência de automóveis e pessoas numa tentativa de repensar a vida em 2074. Levantaram-se temas, em debate, sobre se deveríamos continuar a pensar numa sociedade centrada no transporte individual ou se devíamos projetar considerando que o carro vai ficar obsoleto.

 

DESIGN COM E PARA A COMUNIDADE

FBAUL – Departamento Design de Equipamento – Ana Thudichum Vasconcelos, Ana Lia Santos , Carla Paoliello, Vasco Santos Lima, Marta José

Os alunos da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Lisboa apresentaram o trabalho que têm vindo a desenvolver nos passados três meses que consiste em desenvolver projetos interativos para a comunidade do Torrão, uma freguesia em Alcácer do Sal. Foram apresentados diversos projetos que abrangem diversas áreas disciplinares desenvolvidos por vários grupos de alunos.

 

REALIDADES REMOTAS – MÉRTOLA

FBAUL – Mestrado em Design para a Sustentabilidade – João Cruz, Inês Veiga

A proposta dos docentes da FBAUL no Mestrado em Design para a Sustentabilidade é estudar a cidade de Mértola em 2074. Ao analisar um território de baixa densidade procura-se compreender a diferença entre um território de baixa e alta densidade populacional, os fluxos migratórios, consequências duma população envelhecida, entre outros. O objetivo do trabalho académico seria compreender que mecanismos se podem desenvolver para tentar densificar este território e manter uma população mínima para que esta zona continue a ter vida durante todo o ano.

 

A CIDADE INVISÍVEL (DE CASCAIS)

FA-UL – Pedro Belo Ravara, Amer Obied

O projeto da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa tem como intenção a analise de uma zona de Cascais que tem sofrido com o fenómeno de turistificação com o objetivo de compreender quais são as intenções camarárias para essa zona e quais são as reais necessidades da área de intervenção. A apresentação dividiu-se em três grupos de alunos que apresentaram três propostas destintas salientando a apresentação final que ambicionava a fragmentação e reapropriação do centro comercial Cascais Villa reconvertendo o edifício num edifício de habitação coletiva.

 

PERTO DA VISTA. INTERVIR EM SÃO CRISTÓVÃO, MOURARIA

EARTES – João Rocha, Atelier RUA – Francisco Freitas, Luís Valente

Os alunos da EARTES estão a trabalhar a zona da Mouraria colaborando com associações locais para melhor compreender as características não só morfológicas mas também sociais da zona de intervenção. O exercício de projeto convida os alunos a interagirem com temas como densidade urbana, áreas de loteamento mínimas e sociedade heterogénea. Os projetos estão a ser desenvolvidos individualmente e têm zonas de intervenção pré-definidas.

Alguns projetos apresentados por alunos compreendem nas intenções de projeto habitações para casos de curta estadia como por exemplo quartos e serviços mínimos partilhados. Essa questão trouxe alguma discussão pois numa zona altamente turistificada e sem serviços de educação que justificassem essas tipologias para habitação estudantil pode criar-se condições para que essas habitações sirvam o mercado do turismo, gentrificando ainda mais um dos bairros mais sacrificados de Lisboa.

 

REGRESSANDO À CIDADE HABITACIONAL DA DÉCADA DE 1970

ISCTE – João Maria Trindade, José Maria Cumbre, Nuno Caetano, Paulo Tormenta Pinto, Pedro Pinto

O último grupo da sessão apresentou a proposta em desenvolvimento desde o ano letivo passado. A proposta passa por uma análise das políticas públicas de habitação pré e pós-revolução de abril e os projetos que essas políticas promoveram. Quer-se ainda compreender, à luz da atualidade, de que maneira é que esses projetos se inserem no tecido urbano e a qualidade do espaço público envolvente.

 

DEBATE

O debate final trouxe a problemática do SAAL, e quais seriam as condições ideias para que este processo se repetisse perante a crise na habitação que Portugal sofre neste momento. Constatou-se que o processo SAAL aconteceu durante um período muito especifico da história, o PREC, onde todos os ensinamentos e dados adquiridos durante a ditadura eram postos em causa, onde se desconstruíam dogmas e a ideologia vigente queria o bem comum. Durante esse momento histórico o direito à propriedade foi repensado e substituído pelo direito à habitação: terras foram expropriadas, pessoas organizaram-se em Associações de Moradores e rapidamente casas modestas substituíam as barracas.

Imaginamos que talvez o papel do arquiteto seja desenvolver mecanismos que ajudem ao construir dum conhecimento coletivo e duma solidariedade capaz de fazer frente à crise da habitação, capaz de por em causa o direito à propriedade. Inquiriu-se como é que o arquiteto pode ter um papel ativo na mudança e uma resposta introduzida na discussão foi a participação em ciclos de discussão, de decisão e de construção de poder popular e de poder na área científica, a partilha de conhecimento e a organização com outras associações pode ser um caminho possível a seguir. Reiterou-se que o arquiteto não pode nem consegue trabalhar sozinho e que a mudança não se faz só.

 

 

NUCLEO III / Relatora Inês Lema, com moderação de Bruno Baldaia

HABITAR COMO APRENDIZAGEM. DA RUA MARIA PIA AO VALE DE ALCÂNTARA. CASAS, JARDINS E SOCALCOS

EARTES – João Matos, Pedro Pacheco

No contexto da EARTES, introduz-se o conceito de habitação como um processo de aprendizagem e experimentação. A proposta dos alunos abrange a rua Maria Pia até o vale de Alcântara, explorando um espaço de apropriação que convida à ocupação entre a rua e o vale. Destaca-se a ênfase na presença expressiva do natural na cidade e a redefinição da fachada para reinventar o edifício existente. A proposta procura trazer a natureza do vale para a encosta, integrar os moradores pessoalmente e reivindicar o edifício existente, mantendo viva a memória fundamental para a construção da cidade.

 

UMA CASA PARA TODOS

ISCTE – Pedro Mendes

Na Iscte, a turma responde ao programa com um estudo de maquetes de casos contemporâneos, apostando na tipologia, relação com a cidade e espaço público. Destaca-se a oportunidade de trabalhar o espaço público de forma aberta e integrada, evitando fechar esse espaço como princípio da proposta.

 

CIDADE COMO CASA

FAAULN-PORTO – Ricardo Vieira de Melo, Sérgio Amorim, Alexandra Saraiva, João Cardoso, Anabela Mesquita Loureiro, Beatriz Bogas Barbosa Ferreira, Bruna Pedrosa Guedes, Cláudio Nuno Mesquita Vasconcelos,  Isla Viana Oliphant, Iva Fulko Selôres Castro, Kássia Kerene Oliveira Freitas, Maria João da Silva Amorim Sara Filipe Santos Tavares, Ana Perpétua de Sousa Duarte, Constança Alcina Pereira Gonçalves, Diana de Sousa Cardoso, Emanuel Alexandre Ressurreição Freitas, Inês de Morais Maia Pires, Ricardo Manuel Simões da Cruz, Sandro Carneiro Eusébio, Tomás Tavares Fonseca

O projeto ‘Cidade Como Casa’ da FAAULN concentra-se na cidade consolidada, explorando a mobilidade urbana e abordando desafios como a VCI ‘quebrar’ a cidade e os ecossistemas. Utilizando Barcelona como referência, a proposta tenta fechar a malha urbana a veículos, transformar bairros em espaços predominantemente pedestres e verticalizar os espaços verdes nos edifícios.

 

TORRE PLURIFAMILIAR , COOPERATIVA DE HABITAÇÃO À RUA GOMES FREIRE

ULL – Filipa Oliveira Antunes, Maria Rita Pais, Bernardo Vaz Pinto, Rui Nogueira Simões

Os alunos exploram tipologias de habitação em morfologias urbanas verticais, adicionando 30% da área de habitação. Destaca-se uma abordagem que valoriza a escala da rua e a proximidade com a torre, equilibrando a presença vertical da estrutura com o ambiente urbano. Outra abordagem concebe a malha urbana como uma quadrícula, integrando árvores como pilares, proporcionando uma relação simbiótica com a estrutura arquitetônica.

 

AÇÃO #4 – HABITAR INTERSOCIAL E INTERCULTURAL

DARQ – José Fernando Gonçalves, Nuno Grande, Pedro Maurício Borges

A 1ª turma do 4º ano da DARQ enfoca a habitação, abordando desde a análise do território até o desenvolvimento construtivo dos projetos. O relato destaca a atenção para mecanismos urbanos, pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças. A turma procura transformar bairros existentes em áreas mais integradas e inclusivas, com ênfase na interação com a população jovem.

A 2ª turma concentra-se em Pombal, desenhando nas ‘entrelinhas’ da cidade, enfrentando o desafio das infraestruturas quebrarem as vias principais. O projeto propõe a habitação como forma de cicatrização, explorando habitação compacta e densa, diálogo com a comunidade, discutindo a questão da desgatização e criação de espaços públicos inclusivos.

A 3ª turma estuda, analisa, procura compreender o território de Cova Gala e a sua comunidade de modo a entender a necessidade de um plano de urbanização e o que este mesmo constituirá. Entendem as complexidades geográficas que contribuem para a organização desta comunidade, e projetam com o objetivo de criar uma habitação que se funda com a atividade local já existente dos habitantes. Propõem uma nova circulação, a pé ou de bicicleta, e edifícios com laje contínua e espaços vazios, de modo a criar pátios, cobertos ou expostos, para uma utilidade diversa.

 

EXPERIÊNCIA #2 – SMILE-VISÕES PARA O HABITAR EM TERRITÓRIOS RURAIS PERI-URBANAS

FAAULN-FAMALICÃO – Rogério Amoêda, Maria Tavares, Carla Carvalho, Helena Silva, Manuel Rodrigues de Sousa

O projeto SMIILE aborda a interação entre a ruralidade e urbanização em Famalicão, focando em áreas peri-urbanas. Destaca-se a inclusividade, evolutividade e sustentabilidade na busca por uma integração comunitária e o reaproveitamento de espaço.

 

PLANTAR O BAIRRO

FCUP – Isabel Martinho da Silva, Luís Guedes de Carvalho, Ana Valéria Borysenko, João Pedro Alves Soares, Margarida Rocha Brum, Marta Ribeiro Dias, Rita Baptista de Moura 

No estudo sobre o Bairro da Biquinha em Matosinhos, a FCUP destaca a requalificação dos espaços exteriores, priorizando a criação de melhores espaços coletivos a partir da despavimentação. O projeto utiliza o caminho pedonal como ponto focal, promovendo a apropriação do espaço comum pelos habitantes.

 

DEBATE

O debate reflete sobre a continuidade da preocupação do ‘Mais do que Casas’ no contexto do curso de arquitetura. Destaca-se a necessidade de a arquitetura transcender a vaidade, enfatizando a transformação efetiva. Discussões sobre o processo participativo, a conjuntura política, a transformação da realidade e a busca por novas metodologias de projeto evidenciam um compromisso constante com uma prática arquitetónica mais comprometida e transformadora.

A Chamada de Ideias-Abril 2074 – desponta a virtude e diversidade de abordagens das diferentes faculdades, demonstrando a vitalidade e o compromisso dos alunos e professores a olhar para trás, agora.

 

 

NUCLEO IV / Relatora Catarina Coutinho, com moderação de Joaquim Moreno

TOWN & COUNTRY: A CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE – AREZ, ÁLCACER DO SAL

EARTES – João Soares, Paulo Martins Barata – Atelier Promontório, Nuno Rodrigues – Atelier Oitoo, Izabella Arraiano, Mónica Rodrigues, José Mora, Lucinda Pompeu

Apresenta-se o programa adaptado ao Laboratório de 5ºano, em que o grande tema iminente é o urbano. Assim, propõe-se a construção de uma aldeia alentejana junto ao Sado de modo a servir a zona de Alcácer do Sal. João Soares e Paulo Barata apresentam os princípios chave, o programa e as referências – de modo a perceber o caminho que se quer seguir. 

De seguida, duas duplas de estudantes passam a apresentar a sua resposta a este desafio. A partir de uma procura que visa entender a identidade das aldeias, realizam-se os primeiros ensaios / experiências de morfologia. No que se refere ao lugar, a proposta consiste no desenho de uma nova frente marginal, com a premissa de adaptar a aldeia existente ao programa proposto. A inserção deste percurso ao longo da encosta permite ligar o programa à área de arrozais – muito presente na região. 

Esta apresentação é feita através de fotografias dos desenhos e esquemas de processo, sendo também apresentadas presencialmente as maquetes realizadas.

 

O OUTRO QUARTO

UALG – Paula Gomes da Silva

Expõem-se três propostas integradas no curso de Arquitetura Paisagista. A Proposta 1 diz respeito ao 2ºano de Licenciatura, no contexto da Casa; a Proposta 2 é incorporada no 2º ano de Mestrado, no contexto da Cidade; e a Proposta 3 é incluída na Pós-Graduação em Urbanismo, no contexto da Paisagem Rural. Nesta apresentação é exposta a primeira proposta mencionada. 

Sendo referido que não faz sentido repensar os próximos 50 anos sem pensar na crise climática, o programa ‘Mais do que Casas’ é pensado de forma muito literal, para além do espaço da Casa, apresentado por uma aluna de 2ºano, em representação da turma de 29 alunos. Sendo que, cada vez mais, as famílias vivem em casas sobrelotadas, a ‘ideia de outro quarto’ surge na medida em que o espaço público possa ser apropriado como uma extensão da casa. ‘Que espaços poderiam servir este propósito?’. É a partir desta premissa quecom a Câmara Municipal de Albufeira se irá concentrar o projeto na zona de Montechoro. Constata-se que é um espaço bastante degradado, não utilizado, mas com alguma vegetação. 

Temas como Biodiversidade, Inclusão, Neutralidade Carbónica, Estética vs Funcionalidade, entre outros, têm lugar nos projetos em desenvolvimento. 

 

AS REDES INVISÍVEIS

ISMAT – Vítor Alves, Nadir Bonaccorso, Sofia Gomes

A partir de uma análise crítica da realidade em que estão a trabalhar, é apresentado o programa integrado na unidade curricular de Desenho Urbano 1. 

Esta Unidade Curricular desenvolve o exercício de analisar Portimão – na tentativa de perceber a força em que resulta o turismo nessa zona. São apresentados os números resultantes dessa análise, constatando que o problema não é a falta de casas e que, numa certa altura do ano – julho e agosto – a taxa de turistas nesta zona excede o número de residentes. É ainda feita uma contextualização da evolução cronológica da cidade – desde a cidade romana, sec VX, XVI, (…), até uma previsão daquilo que será esta zona em 2050 (prevê que o rio volte a ganhar a sua própria forma). São identificados os núcleos de fluxos urbanos, e são analisados os hotéis e alojamentos locais onde se percebe, novamente, que os fluxos e os núcleos principais são onde estes têm mais presença. Percebe-se também que estes, maioritariamente, se encontram perto das estradas automóveis sendo que, consequentemente, os turistas não utilizam e preferem os transportes públicos. 

Com base na questão ‘como se habita numa cidade turística?’ entende-se, neste trabalho em desenvolvimento, que os próprios habitantes têm de se adaptar, havendo uma barreira da praia para a cidade.

 

DA PRAIA NOVA VAGA AO PALÁCIO DA AJUDA

ULL – Filipe Coutinho Quaresma, Rodrigo Hozer e Brito

Neste programa referente ao Projeto de 5º ano é escolhido um território que abrange uma área bastante grande, desde a Praia da Nova Vaga até ao Palácio da Ajuda. Assim, propõe-se desenvolver o projeto de acordo com uma problemática deste território detetada pelos alunos, sendo estes a escolher o próprio programa.

Segue-se a apresentação de alunos do projeto ‘Ainda’, em que a zona escolhida foi Belém – área consolidada, com muita história, e muito dinâmica – resultando numa multiplicidade de hipóteses. Identificam-se alguns lugares vagos que foram acontecendo com a expansão da cidade e a análise individual de cada um – a partir do critério de terrenos já loteados. É apresentada uma proposta de implantação para cada terreno, sendo que podem construir cerca de 200.000m2 – em áreas verdes, de lazer, ou outras. Trazem, assim, uma análise de um dos terrenos perto do Estádio do Restelo, atrás de um grande prédio com um talude de 20 metros. Depois de um contexto histórico do terreno, são demonstradas plantas de intervenção, cortes/alçados, diagramas de percursos – acessibilidades – geometria existente da envolvente e maquetes de acrílico e cartão – que acreditam dar ênfase aos pisos e contrastar com a envolvente.

 

CIDADE / ÁGUA / HABITAR

UAL – Inês Lobo

Através deste programa, a UAL passou a constituir um segundo ciclo de ensino. Desde o ano passado, as dissertações passaram a ser resultado de um conjunto de disciplinas que, no fim, conformam uma tese final. Partindo do tema ‘cidade / água / habitar’, é pensado o sistema hídrico da cidade e de que forma este condiciona o desenho da cidade e a forma como a habitamos. Este programa abrange cadeiras teórico-práticas, quatro ateliers de: projeto-tese, de projeto (autonomia em se propor o projeto de cada ano), de tecnologias de arquitetura e de paisagem.

É feita uma apresentação desta estrutura e resultados destas teses em formato de jornal – sendo as teses finais dos alunos a soma e consolidação destes artigos. Os temas partem sempre da forma como a água condiciona, ao longo da história, o crescimento da cidade, e são levantadas questões ao território – Estuário do Tejo –, já que Lisboa é uma grande cidade metropolitana e o seu centro é a água. São lançadas questões e estas dividem-se em quatro temas aos quais correspondem as reflexões. A proposta aos alunos de fazer um Manifesto – na Unidade Curricular de Projeto-Tese 1 – origina ‘resultados surpreendentes’. São explicados vários exemplos, sendo sempre manifestada a ideia de que são trabalhos prospetivos, no sentido em que não se fecham num território – ‘de Lisboa, para o Mundo’. 

Trabalhos e maquetes são expostos em paralelo a esta apresentação, tanto do ano anterior como também trabalhos ainda numa fase muito inicial. Todas estas questões em conjunto equacionam novas formas de habitar – casas para todos; a casa ideal para qualquer pessoa; a oportunidade de continuar e requalificar as nossas cidades. 

 

DEBATE 

Discutem-se os programas apresentados e qual o papel do estudante no desenvolvimento dos mesmos – o lugar da escola, o contributo do estudante e a aprendizagem coletiva. 

Debate em torno da formação do arquiteto, as diferentes metodologias e programas de cada escola e relação professor-aluno. Levantam-se dúvidas sobre o ensino da arquitetura nos dias de hoje. 

 

A JANGADA DE PEDRA

FA-UL – Jorge Mealha

É feito um ponto de situação do que o grupo de alunos da turma de 5ºano tem desenvolvido. A Jangada de Pedra introduz-se enquanto sentido figurado de um suporte. É tratada a relação com a água partindo de uma especulação de uma possibilidade de fazer um aterro fora de Lisboa – o último aterro de Lisboa. Resolver ou ter atitude crítica sobre o que aconteceu à Lisboa que normalmente falamos. 

São apresentados registos antigos de utilização de zonas que tiveram sempre relação direta com a água, percebendo que no século XX esta relação é cortada, uma infraestrutura continua industrializada, desde Cascais até a zona da Expo. Nessa reta, a zona do Jamor é o pretexto escolhido para este programa, questionando-se como é possível a realização de uma extensão e como se pensa um aterro que tenha um propósito industrial. 

São apresentados trabalhos com várias naturezas e metodologias:  maquetes exploratórias, esquissos, ferramentas habituais, sem preconceitos – da plasticina e do gesso às tecnologias. 

 

AÇÃO #2 – HABITAR O ESPAÇO PÚBLICO

DARQ – Armando Rabaça

Este programa é adaptado ao 2º ano do curso de Arquitetura, resultando no tema ‘A cidade: habitar o espaço público’. A ideia é consolidar o Largo das Amoreiras, projetando um equipamento de co-living. 

É apresentado um enquadramento de funcionamento da vila, os seus eixos principais e estruturação dos espaços públicos. 

Numa primeira fase, é realizado um levantamento da malha urbana a partir de desenhos e maquete à escala 1.500.

Pretende-se que se criem formas diferentes de habitar o espaço interior na tentativa de habitar o espaço público delimitando os largos. 

É feita uma apresentação mais detalhada de um dos estudantes, na qual se levantam problemáticas na tentativa de as resolver, com o objetivo de relacionar a história e memória da cidade. A extensão do interior para o exterior é uma relação muito importante sendo prioridade tratá-las com continuidade.

 

EXPERIÊNCIA #1 – HABITAÇÕES PARA O MAIOR NÚMERO | ENSAIOS SOBRE LUGARES EM PAUSA EM CONTEXTO URBANO

FAAULN-FAMALICÃO – Maria Tavares, Ricardo Freitas, César Moreira, Inês Pinto, Leonor de Sá Maia

Esta proposta “não é totalmente nova àquelas que costumam integrar nos programas desta escola”.

É apresentado o seu contexto urbano e geográfico de Vila Nova de Famalicão. Faz-se uma análise do número de habitantes e dos números de entradas e saídas diárias na cidade. Após os levantamentos dos quatro bairros selecionados, o trabalho concentra-se no centro da cidade. É uma zona que gera alguma dificuldade para os estudantes já que, na sua maioria, residem nos arredores.

Apesar de os trabalhos ainda estarem numa fase muito ensaísta, as estudantes apresentam bases de módulos que permitiram perceber o que era a habitação – entendendo áreas e espaços necessários. São demonstradas maquetes e esquemas de tipologias muito variadas.

Assim, é lançado o programa geral mas o estudante deverá acabar por defini-lo melhor, consoante o que achar pertinente. 

Nesta fase que terminará em fevereiro, há um conjunto de 5 conceitos que irão ajudar a concretizar e materializar o trabalho: infiltrar (abrir tecido urbano), intensificar (gerar novas dinâmicas urbanas), cruzar (permeabilidades), partilhar (novos espaços públicos) e colonizar (quando uma ou mais espécies povoam uma nova área – habitar, cultivar, frequentar, respeitar…). 

São defendidas 3 ideias chave que vem de há anos e temos de levar daqui a 50 anos: direito a habitação, direito ao lugar, direito à cidade. Isto posto em prática em estudantes que não vivem a cidade. Dada a pressão da cidade, precisamos de casas agora! É reforçada a importância de permanecer nos sítios, o direito à cidade, ideia de pertença de uma urbanidade que a cidade tem vindo a perder. Direito à cidade é a capacidade de nos sentirmos urbanos, na cidade que estamos a desenhar e a investir. 

 

REGENERANDO O DESENHO DA CIDADE

ESAP – Paolo Marcolin, António Barbosa, Fátima Fernandes

Apresenta-se o trabalho produzido entre o 4º e 5º ano: Uma Visão para a VCI. Partindo da ideia de habitar a cidade, trabalha-se na transformação de uma infraestrutura pesadíssima – criando uma rutura na cidade. Tem-se em vista dar à cidade uma nova urbanidade pela eliminação deste grande espaço e terreno que poderá passar a ser grande potencializador da vida urbana. 

Para isto os alunos tiveram de perceber a importância desta infraestrutura: uma autoestrada dentro da cidade do Porto – o que é que isto significa e qual é a diferença de um espaço urbano e de um espaço não urbano. O desafio passa por perceber como é que esta eliminação de fluxo automóvel e deste limite, se pode transformar num espaço em que o protagonista deixe ser o carro e seja o território da cidade.

Assim, o 4º ano desenvolve serviços e equipamentos de bairro e o 5º ano desenvolve uma relação com o desenvolvimento e reflexão com os bairros pendurados nesta infraestrutura. São encontrados lugares que não tem capacidade de gerar riqueza para a vida na cidade – lugares de armazenamento. 

Surge uma série de bairros identificados por alunos, conjuntos urbanos em que o 5º ano vai trabalhar, nas novas condições que estes conjuntos tem quando deixarem de ter esta muralha. Ideia de metamorfosear estes contextos urbanos. Precisamos de casas que respirem e espaços que não sejam este muro de poluição. 

 

DEBATE

É levantada a pertinência deste programa: O Mais do que Casas serve para nos ajudar a pensar coletivamente. Questiona-se o que terá acontecido à nossa ambição revolucionária e como queremos projetar essa ambição nos próximos 50 anos.

Debate em torno da questão da crise da habitação. Como misturamos estas problemáticas? Para onde vamos a seguir? O que é que mudou? O que vai mudar? 

São discutidas as novas tipologias e de que forma as devemos ter em conta no desenho da habitação, adaptando as tipologias tradicionais aos novos modos de habitar. 

Apelo e introdução dos estudantes na discussão: como querem viver?

O debate encerra com a grande questão: O que é boa arquitetura?

 

© Nuno Noronha Almendra / Mais do que Casas – Encontro Chamada de Ideias – Abril 2074 #1, CCB – Garagem Sul

 

 

Encontro 2

06.03.2024 | FAUP

As conclusões da Chamada de Ideias #1, reafirmam-se e revigoram-se neste segundo momento. Neste, foram os alunos que protagonizaram os principais momentos através da apresentação dos trabalhos executados e em progresso. O estado de maturidade das propostas está dependente da abordagem que cada escola fez do desafio lançado e do modo como o projeto foi integrado nos planos de estudos. De qualquer modo, é unânime o reconhecimento das virtudes do Programa Mais do Que Casas que põe em confronto os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, as interpretações e orientação dos professores, das escolas e dos cursos, descentrando o olhar de um universo restrito, alargando-o e complementando com outras realidades, escalas e interpretação de umas e outras.

As apresentações feitas pelos alunos foram, independentemente do ano do curso frequentado, claras, objetivas, suportadas por materiais gráficos adequados e, na generalidade, cumpriram os tempos de apresentação pré-definidos. Releva-se o interesse, empenho e até entusiasmo colocado nesta sessão.

Procuraremos aqui reunir em vários grupos temáticos as apresentações a que pudemos assistir:

 

Diversidade de escalas: 

Quase todos os trabalhos abordam as várias escalas, do fogo à cidade. 

 

Habitar a Cidade/A Cidade como Casa.

Verificou-se, na maioria das apresentações, uma incidência e interesse sobre o espaço público tentando dar-lhe qualidades específicas que ultrapassem o conceito vazio de ‘espaços verdes’. A ligação entre o privado e o público, chamando o público para dentro do privado, através da proposta de introdução de programas abertos aos cidadãos relacionados com espaços habitacionais ou, noutros casos, tão só a identificação da necessidade de romper barreiras físicas e sociais que se manifestam na esfera pública, são preocupações refletidas nos trabalhos apresentados e em curso.

 

A Habitação. 

Noutros casos o trabalho incide sobre o fogo e sobre a sua tipologia, ainda que não deixe de ser visível a preocupação da articulação com a ‘rua’, por vezes numa dimensão restrita, apenas  preocupada com relações de proximidade. Nestes trabalhos ensaiam-se configurações adaptadas a habitantes particulares: estudantes, grupos de amigos, sem abrigo, grupos étnicos, comunidades específicas, emigrantes, etc. A reflexão feita, patente nos trabalhos apresentados, aponta modelos que favorecem a multiculturalidade e o interclassismo, explorando soluções de tipologias evolutivas e flexíveis, com programas de base colaborativa, dando atenção às formas de agregação para proporcionar a existência de espaços de sociabilidade adaptados às diferentes manifestações sociais e culturais. 

 

Infraestruturas: 

Grandes infraestruturas de Mobilidade:

As grandes infraestruturas de mobilidade, vias coletoras, linhas férreas, que provocam situações de rutura nos tecidos urbanos, foram temas de partida e de reflexão para muitos dos trabalhos. Os trabalhos estudam soluções urbanísticas e arquitetónicas para criar continuidades interpretando o espaço público como espaço de habitar. Observámos também nalgumas apresentações a possibilidade de trabalhar a obsolescência de infraestruturas urbanas (a Via de Cintura Interna no Porto foi um tema comum) e as formas como a cidade vai habitar estas transformações.

 

Infraestruturas azuis:

As linhas de água, entendidas como uma oportunidade para a criação de espaços de lazer, mas também como ecossistemas naturais essenciais para a criação de biodiversidade e de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, foram temas tratados pelos alunos. Viver o Rio, reconhecer e valorizar o património associado aos rios, estruturas hidráulicas e moinhos, foram temas referidos que se propõe continuar a desenvolver. No caso dos projetos que incidem na orla costeira, os trabalhos investigam soluções que se defendam e adaptem aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente o aumento do nível da água do mar e consequente reflexo na linha de costa.

 

A relação com a realidade

Na maioria das abordagens as propostas têm por base a análise tipo-morfológica dos territórios e a observação do seu funcionamento, usos e fluxos. Outras escolas optaram ainda por considerar, como matéria para informar o desenvolvimento do trabalho, a regulamentação urbanística e legal e ainda as opões de política urbana. Para tal, alguns dos cursos iniciam o trabalho pela análise crítica das opções para os diferentes territórios previstas nos instrumentos urbanísticos e documentos de política urbana para proporem alternativas. 

 

Turismo/Gentrificação

Os temas da gentrificação e do turismo tem tido um papel importante nas transformações recentes nas cidades e naturalmente aparecem refletidos em alguns trabalhos, em particular nos que se localizam nos grandes centros urbanos, Lisboa e Porto. Formas alternativas de turismo, que podem configurar oportunidades ou ameaças ao direito à habitação, aparecem ainda refletidas em áreas de pressão turística, sazonal e interna, como é o caso da Figueira da Foz. Também aqui se observa a necessidade de se estruturar uma visão crítica sobre estes processos e não apenas a tarefa de lhes dar forma desligada daquilo que os origina.

 

Multidisciplinaridade

O contributo das áreas do Design e das Artes Plásticas (representadas por cursos da FBAUP e da EAAD-UM) vem enriquecer a reflexão, alargando os conceitos do habitar e ajudando a refletir sobre o significado do abrigo e logo da habitação e do que a complementa ou está para além dela. Os trabalhos apresentados refletem ainda preocupações ambientais, suscitando a consciência crítica sobre o futuro do planeta. A contribuição de outras áreas como o urbanismo, as engenharias ou a arquitectura paisagista (UA, FEUP e FCUP) ajudam a compreender o habitar como um tema de muitos saberes – também por aí é evidente a importância da abertura e da participação na sua discussão.

 

Habitação: materiais e soluções construtivas 

Tendemos a secundarizar nestas discussões e reflexões as condições reais de implementação dos programas ou projectos a que chegamos. E, no entanto, é frequentemente na consideração pragmática das suas condições que podemos muitas vezes garantir a eficácia daquilo que propomos. Construir é uma condição concreta e assistimos a várias abordagens quer a novos materiais e sistemas, quer à recuperação de outros de que conhecemos pela História a sua adaptabilidade. Num momento em que a sustentabilidade nos faz reconsiderar um panorama a partir de um novo ponto de vista foi importante assistir a comunicações e debates que nos levam a intervir de forma diferente e reflectir qual o impacto que isso poderá ter sobre forma e linguagem, mas também sobre o impacto que percebemos na paisagem, nas cidades e na economia. 

 

Nuno Portas

Foram várias as apresentações que citaram ou se referiram a Nuno Portas e há todas as razões para que se torne, neste âmbito, uma personagem tão referenciável. É a figura-chave do Processo SAAL e é dos arquitectos portugueses mais empenhados na discussão da habitação fora de um universo estético estrito. A sua importância como pedagogo e divulgador de novos modelos urbanos foi referida, quer através de revisitas a intervenções do SAAL como na abordagem a políticas de cidade.

 

Tempo e registo

Foram várias as apresentações que compilaram referências para construir um novo olhar crítico sobre elas, de alguma forma assistimos agora a um ‘baralhar para voltar a dar’. Encaram-se elementos preexistentes como possibilidades de continuidade deixando cair o impulso de substituir o que existe sempre que uma mudança é necessária. A consideração do que existe, muito para lá do valor como património, apareceu frequentemente como ponto de partida aproveitando o seu potencial nas mais variadas formas – como material, como marca do tempo num lugar, como resgate, ou como possibilidade para modelos híbridos que se focam mais na continuidade do que na disrupção. Por aí o tempo, os registos, o arquivo, têm uma importância que conduz à construção de visões críticas sobre os modelos especulativos vigentes. A análise dos últimos cinquenta anos de modelos urbanos trouxe também a curiosidade de termos podido observar suportes distintos do habitual (a televisão e o cinema) como fonte de informação, já que esse também já é o seu tempo.

 

Arquitectura e ideologia

Muitas apresentações trouxeram à evidência que os modelos urbanos dependem de estruturas ideológicas que os sustentam, e não é possível analisar separadamente o impulso e o resultado. Também aqui se revisitaram autores e obras onde essa presença é explícita. É curioso verificar que num momento em que ideologias são desmontadas dos seus suportes e se considera que a única coisa absoluta é a relativização (e o deserto de pensamento sustentado que ela provoca), a necessidade de reorganizar os fragmentos que ficaram soltos de nexo e significado é um trabalho para os arquitectos hoje. Arquitectura e ideologia foi um tema explícito nestas sessões e ficámos com a percepção de que uma reorganização da disciplina está presente nas preocupações dos alunos e com um alcance mais profundo do que até há pouco tempo poderia ter sido possível antecipar. A sustentabilidade parece ter aqui um papel central, é a partir dela que tudo se está a reorganizar.

 

Bruno Baldaia e Conceição Melo

 

*os autores escrevem segundo o antigo Acordo Ortográfico

 

 

NUCLEO I / Relatora Ana Alvaneo, com moderação de Joana Restivo

Elementos Construtivos na Habitação Adequação de Materiais às Casas do Futuro 

UA – Ana Velosa e Miguel Morais

Apresenta-se a requalificação do parque habitacional existente como potencial solução para o problema da habitação que atualmente verificamos. Elencam-se algumas preocupações referentes à habitação pós 25 de abril. O conforto e a salubridade energética foram algumas das preocupações introduzidas depois de 1974, que começaram a ser aplicadas através da criação de regulamentos e parâmetros técnicos a ser cumpridos requalificação do edificado urbano existente. 

Este trabalho insere-se numa investigação mais alargada neste âmbito, que procura mostrar a necessidade de uma requalificação do parque habitacional europeu e português e apresentar a reabilitação como uma estratégia muito eficiente no âmbito da sustentabilidade. Menciona-se casos internacionais que realçam a importância de aprender com o passado para construir o futuro, estudando as técnicas vernaculares e percebendo como evoluíram ao longo do tempo. 

 

Um manifesto da Arquitetura à Industrialização da Construção

FAUP – Ana Sofia Loureiro, Clara Pimenta do Vale, José Pedro Sousa 

O trabalho apresenta a fabricação modular como resposta à crise da habitação, através da realização de uma pesquisa que permita partilhar alguns bons exemplos dentro do tema. Utiliza-se a casa como objeto de estudo e alerta-se para a necessidade de redefinir os princípios da habitação para os dias de hoje e para os modelos de família do nosso tempo, sendo para isso necessária uma discussão alargada, reunindo o máximo de agentes possível e incluindo as comunidades locais. Realça-se o facto de financiamento público e privado dever aliar-se à investigação científica, que deverá informar reabilitações e construção nova. 

Apresentam então se algumas lições aprendidas no passado e que podem ser transportas para o dia de hoje e mencionam-se alguns dos princípios para a habitação do século XXI, entre eles a resiliência e a sustentabilidade, devendo o processo de habitação ser democrático e holístico e devendo a habitação deverá assumir-se como uma continuação da cidade. 

 

Atelier de Sustentabilidade

EAAD – Pedro Bandeira

O objetivo do programa é levantar questões técnicas e sociais, gerando pensamento crítico e reflexão sobre a falta de habitação e as questões de sustentabilidade social e ambiental. 

Todos os projetos realizados têm cunhos muito pessoais e são acompanhados por professores de engenharia civil. Os projetos apresentados têm como âmbito contribuir para estilos de vida saudáveis, havendo trabalhos que se desenrolam à volta da alimentação e de acordo com diferentes tipos de cultivos. Outros trabalhos abortam a temática do contrassenso no acesso à habitação – muitas pessoas não têm acesso a habitação condigna e muitas outras habitam espaços com um número de compartimentos muito superior às suas necessidades. Outros tentam tentar adaptar as tipologias tradicionais a novos modelos de habitação partilhada, criando edifícios de habitação partilhada, com espaços de co-working, hortas e tipologias que seguissem critérios de flexibilidade e de adaptabilidade. 

 

Performing the Shelter Morar nas Fontaínhas / Propostas 1/65 / Assembleia Crítica

FBAUP  – Gabriel Vaz Pinheiro

Os trabalhos apresentados centram-se na casa para lá da fachada, apresentando a noção de abrigo como algo muito genérico. 

A primeira apresentação centra-se na experiência pessoal da autora, que morou nas Fontaínhas numa carrinha aquando da sua chegada ao Porto. Descreve a experiência como desafiante e stressante, mas aponta que lhe deu trouxe muito conhecimento. Fala sobre a ideia de morar no espaço público e reflete sobre a membrana muito fina que permite – ou não – o diálogo com o mesmo. Partilha um pouco da sua rotina diária, que tem de ser continuamente adaptada de acordo com as suas necessidades básicas. Refere ainda que a experiência a fez refletir sobre o que é uma casa – uma morada ou o que trazemos dentro de nós. 

O próximo grupo reflete sobre o artigo 65, reforçando a ideia de observar e repensar coletivamente os espaços existentes antes de construir novas casas. Quer se pensar no futuro, permanecendo no presente. 

 

Cidade-Abrigo 

UFP – Sara Sucena, João Ferreira

Este projeto do 5º ano do Mestrado Integrado começa pelo levantamento de edifícios abandonados – motivado pelo trabalho dos oitoo. A ideia é utilizar os edifícios e espaços vazios para reinserção de pessoas em condição de sem-abrigo, em colaboração com a Cruz Vermelha. Projetam-se ainda infraestruturas necessárias para responder as necessidades básicas dos indivíduos. 

São apresentadas várias propostas de requalificação dos espaços existentes, intervenções que pertentem retirar a conotação negativa de habitar uma instituição social. Dá-se um sentido de individualidade a cada tipologia, permitindo que cada espaço seja adaptável de acordo com as necessidades de cada um. Outra estratégia implementada é a criação de zonas de workshop e de áreas de formação para que as pessoas em situação de sem abrigo possam adquirir ferramentas e conhecimento que lhes facilite uma futura reintegração na comunidade. 

 

Shel-ter / Umbrella Project 

FBAUP – Gabriela Vaz Pinheiro

Aborda-se a noção de nomadismo como estilo de vida e reflete-se sobre possibilidades de habitar sem afixar uma casa ao chão. Nesse sentido, apresenta-se um projeto de arquitetura de pequena escala que tem a concha como referência – um abrigo que se tem às costas. Assim, cria-se uma estrutura que pode colapsar sobe si própria, abrindo ou recolhendo, construída com meios naturais como o bambu. 

Outro projeto apresentado tem como ponto de partida o chapéu de chuva, uma ferramenta que nos protege e que é por isso muito valiosa, mas que rapidamente se torna num elemento renegado dada a sua fragilidade. Com isto em mente, o trabalho tem em vista a recolha de objetos da rua, como chapéus de chuva partidos, separando as diferentes partes que os constituem e reutilizando o que for possível. O princípio é coser vários tecidos de chapéus abandonados de forma a criar um grande chapéu, uma membrana gigante protetora, oferecendo oportunidades de reparação e a criação de abrigos impermeáveis.

 

NUCLEO I / Relatora Ana Pontes, com moderação de Rita Furtado

 

Formas do verbo Habitar 

EAAD – Paula Trigueiros, Soraia Teixeira

No âmbito da área do design de produto, introduziu-se o conceito da habitação temporária ou partilhada e o modo como, de facto, o design tem um papel ativo neste sentido. Questões como o nomadismo profissional, os desafios contemporâneos de circunstâncias socio-económicas etc. foram exploradas no sentido de mostrar exatamente estas “várias formas de habitar” e o modo como o design tem um papel inovador de resolução prática nesta temática.

Assim, vários alunos apresentaram o trabalho desenvolvido para uma área de projeto que os propunha a explorarem ideias que vão de encontro a estes desafios das novas “Formas do Verbo Habitar”. Com isto, limitados à simples utilização de uma placa de 60x150cm de MDF, os alunos apresentaram várias soluções que iam desde o design de dispositivos para organização, mobilidade e portabilidade, até jogos de integração, objetos ajustáveis e outras funcionalidades intrínsecas à conceção do Habitar.

 

AÇÃO 1 – HABITAR EM REPÚBLICAS

DARQ – UC – Luís Miguel Correia

A cidade de Coimbra, uma cidade historicamente marcada pela sua tradição acadêmica, encontra-se hoje a meio de uma crise habitacional, especialmente evidente na falta de resposta no que toca ao alojamento para os estudantes. Diante desse desafio, o programa do primeiro ano de arquitetura na unidade curricular de Projeto concentrou-se na conceção de soluções para o alojamento estudantil na cidade.

Os alunos foram introduzidos às diversas formas de acomodação disponíveis na cidade, desde as repúblicas até as residências de estudantes, o que levou a reflexões profundas sobre a natureza comunitária dessas tipologias e o espectro social e humano associado ao conceito de “construir o nós”.

Como parte do desafio, os alunos foram desafiados a desenvolver um conjunto de 18 repúblicas individualmente. Com isto, refletiu-se o facto de este exercício não se limitar apenas à conceção de espaços habitacionais, mas também ao reconhecimento de questões fundamentais, como o significado de habitar em comunidade e a organização cuidadosa dos espaços para promover a partilha coletiva e a interação entre os residentes. Assim, o projeto não apenas abordou a questão da habitação estudantil em Coimbra, como se tornou numa oportunidade para os estudantes explorarem ideias inovadoras no campo da vida comunitária e do desenho socialmente consciente do espaço.

 

Retiro Espiritual. Espaço de contemplação e introspeção com acomodações temporáreas para 7 peregrinos

ULL – Filique Quaresma, Hugo Nazareth Fernandes, Luisa Paiva Sequeira, Nuno Griff

No primeiro ano do curso na área de Projeto 1 da Universidade Lusófona de Lisboa, os alunos foram desafiados a explorar o conceito de “habitar a unidade” refletir sobre esta ideia de recolhimento individual como uma forma de habitar espiritual. Assim, o projeto focasse neste conceito além da habitabilidade física e procura criar espaços que fomentem a reflexão, contemplação e conexão espiritual numa tipologia de habitação temporária para 7 peregrinos. 

O projeto teve como lugar de intervenção o “pulmão verde” do Parque Natural de Monsanto tendo como pré-existência um moinho em ruínas, podendo o mesmo ser ou não ser integrado na conceção do projeto. Essa escolha estratégica do local proporcionou aos alunos um ambiente natural único, repleto de significado histórico e cultural, para explorar várias ideias arquitetónicas.

Neste sentido, os alunos foram desafiados a compreender as necessidades e limitações específicas de uma habitação de curto prazo, com pouca infraestrutura disponível, o que exigiu uma abordagem criativa para integrar soluções práticas e funcionais, ao mesmo tempo em que se preservava a harmonia com o ambiente natural e se proporcionava uma experiência enriquecedora para os peregrinos. Assim, o projeto envolveu considerações profundas sobre o significado do espaço e o seu impacto na experiência humana a que, de facto, os peregrinos se propunham.  

 

AÇÃO 5 – Habitar Iterngeracional

DARQ – UC – Joaquim Almeida

O Atelier de Projeto II B do quinto ano, reconhecendo a urgência de responder à crise habitacional, concentrou-se no debate sobre as diferentes formas de habitar tanto para jovens quanto para idosos. Os alunos foram desafiados a um projeto de coliving, de modo a unir e integrar duas realidades inter-geracionais ao desenvolver uma proposta urbana inovadora para novas formas de habitação.

O processo envolveu uma especial consideração ao desenho otimizado dos módulos de habitação, com o objetivo de tornar os mesmos flexíveis e adaptáveis para atender às necessidades de uma grande “fatia” da população – os jovens e os idosos. Neste seguimento, gerou-se um debate significativo sobre os espaços coletivos entre as duas gerações, considerando os hábitos muitas vezes contrastantes entre ambas ao explorar como a arquitetura pode desempenhar um papel crucial enquanto agregador social na procura de respostas para estas questões.

Além disso, foram levantadas questões importantes sobre a integração ou separação das residências, bem como a importância de garantir espaços sociais e públicos adequados para promover a interação e conexão entre os diferentes grupos etários. Assim, este diálogo estimulou uma reflexão profunda sobre o papel da arquitetura, não apenas na conceção de espaços habitacionais, mas também na promoção da inclusão social e da coexistência harmoniosa entre diferentes segmentos da sociedade.

 

Atelier de Programas Emergentes  

EAAD – José Capela

A cadeira de Projeto 5 concentrou-se no tema da habitação, ao explorar concursos públicos relacionados com a habitação, economia e sustentabilidade. Neste sentido, os alunos foram desafiados a elaborar um projeto para um dos dois concursos internacionais: Beyond Isolation: Senior Housing e Los Angeles Affordable Housing Challenge.

A metodologia adotada foi enraizada no conceito vincado no modernismo, seguindo o princípio “do particular para o geral”. Na primeira fase, os alunos desenvolveram diagramas de ações, baseados na observação do dia a dia das famílias nas suas casas, o que resultou na criação de “dispositivos ideais” para cada atividade, seguida pela conceção de “dispositivos de interconexão” para os espaços destinados às diferentes atividades.

A partir dessa abordagem de ‘colagem de fragmentos’, os alunos implementaram um projeto no espaço designado. Deste modo, em todas as etapas, foram consideradas a relação entre interior e exterior, as possíveis interações de vizinhança e coletivização, e a flexibilidade potencial de alguns espaços.

Além disso, os alunos aplicaram as suas análises prévias num projeto realizado em território nacional. O objetivo era não só resolver o problema do isolamento dos idosos, mas também apresentar soluções para a crise habitacional em Portugal. O projeto visava descentralizar e combinar as zonas de residência dos idosos com outras gerações, criando várias tipologias que promovessem o cruzamento e a intercomunicação entre as gerações nos mesmos espaços comuns.

 

NUCLEO II / Relatora Ana de Luca, com moderação de Conceição Melo

 

O futuro é incerto, é preciso pensar global e agir local.

É importante considerar a organicidade da habitação, e poder ver a cidade como organismo.

 

Rio Convida

DAMG – UPT – David Leite Viana, Joaquim Flores, Susana Milão

É proposto no âmbito do 1° semestre do 4° ano do MIAU, um plano urbano desenvolvido a partir de uma análise urbana da envolvente do Rio Leça. As infraestruturas urbanas hoje presentes e as ligações com o transporte público, assim como a densidade demográfica da região são fatores que fizeram parte dessa análise e do reconhecimento da área de impacto do rio. O objetivo seria projetar nessa região de forma a qualificar as áreas de proximidade com o rio e tê-lo como temática para desenvolver um espaço público fundamental para os habitantes da região.

 

Cidade como Casa

FAAULP – PORTO – Ricardo Vieira de Melo, Sérgio Amorim, Alexandra Saraiva, João Cardoso

Os alunos do segundo ano buscaram explorar como o tema do habitar coletivo em edifícios de convivência se enquadra em um contexto urbano mais abrangente. A intervenção é proposta na zona de Salgueiros, no Porto. Com enfoque nas áreas verdes, os projetos buscaram o desenvolvimento de um espaço público de qualidade que promovesse o contato entre moradores, assim como estabelecer uma conexão entre os dois lados da VCI, priorizando percursos pedonais, e buscando aproximar-se da ideia de cidade como casa.

 

Experiência #1 / Habitações para o maior número. Ensaios sobre lugares em pausa em contexto urbano

FAAULN – FAMALICÃO – Maria Tavares, Ricardo Freitas, César Moreira

A análise urbana da região de Famalicão busca o reaproveitamento de atravessamentos comerciais criados nos anos 80, de forma a testar e considerar os vazios urbanos como elementos importantes na formação da malha urbana. O trabalho dos alunos do segundo ano propôs uma nova dinâmica de ocupação urbana e conexão entre os habitantes, com a intenção de trazer vida e facilitar o acesso para um quarteirão atualmente pouco qualificado dentro do tecido urbano. 

 

Manto/Camuflagem/Bedtime stores

FBAUP – Gabriela Vaz Pinheiro

As artistas plásticas apresentaram dois projetos que simultaneamente questionaram diferentes formas de pensar o abrigo. “Performing the shelter” apresenta a ideia de Manto como abrigo a partir de materiais naturais, a metáfora da natureza como recurso, assim como a metáfora da camuflagem, introduzindo a ideia de organicidade do habitar. “Bedtime stories” aponta a relação do espaço das bibliotecas públicas, espaços democráticos, com a ideia de abrigo, buscando a conexão com narrativas diárias de nossas vidas.

 

Casa Comum

UBI – Edite Rosa, Inês Campos, Tiago Oliveira, Rogério Galante

Dentro do tema “habitar”, os alunos do segundo ano desenvolveram propostas de Casa Comum para artistas. A intervenção urbana aconteceria em um terreno no centro histórico de Covilhã, tendo atenção à preexistência, aos espaços de permanência e funções mais públicas e de convívio do novo espaço proposto. Os volumes pretendem organizar o território de forma a criar acessos públicos e conectar diferentes áreas da cidade. 

 

Debate

O debate, que ocorreu ao fim da manhã, acabou por reunir os temas que haviam em comum entre as apresentações. Destacou-se a importância de pensar na habitação em uma escala urbana, cultural e política, de formação de território, ou seja, como se habita a cidade e como o habitar a compõe. A densificação das cidades exige que o desenho das novas construções leve em conta a preexistência de outras composições urbanas. Esse tipo de raciocínio é remetido aos pensamentos do 25 de abril, e ao mesmo tempo abre preocupações acerca da inovação e do futuro. Afirma-se que a fronteira entre o individual e o coletivo acaba por diminuir, e aumenta a importância do espaço público. A troca de ideias vem a concluir que o futuro é incerto, é preciso pensar global e agir local.

 

NUCLEO II / Relatora Eva Veloso Monteiro, com moderação de Alexandra Castro

Cuidar a cultura urbana.

Criar sentido de grupo num trabalho individual.

Libertar os solos e criar espaços de comunidade.

 

A Cidade Invisível (de Cascais)

FA-UL – Pedro Belo Ravara, Amer Obied

Sobre um enunciado que destaca a importância dos centros históricos e da habitação na valorização da cultura urbana, três grupos de estudantes apresentam projetos para a cidade de Cascais. 

As propostas são feitas sobre edificações existentes, próximas da Ribeira de Vinhas: Mercado de Cascais; Centro Comercial Cascais Villa e Edifício S. José.

Os temas trabalhados coincidem em três valores essenciais: ideia de comunidade – pelas pluralidades programáticas propostas; relações interseccionais – pela integração da ecologia nos projetos de arquitetura; e coesão social e territorial – pensadas desde a tipologia habitacional ao desenho do espaço público.  

 

Narrativas Da Habitação: (re)Ver e (re)Imaginar

ISCTE – Paula André

A proposta nasce da intenção de celebrar o centenário do Atlas Mnemosyne e da perspetiva de que a memória é essencial à construção ativa do presente, aludindo ao pensamento de Nuccio Ordine.

As estudantes fazem um trabalho de investigação e curadoria, histórico e crítico, sobre como o problema da habitação está representado no arquivo da RTP, de 1960 a 2009. Ensaiam, também, uma passagem do formato de arquivo a atlas.

Habitação é um direito difícil, uma conversa cansada, uma tarefa infinita

É a frase que encerra a apresentação deste problema-tema.

 

AÇÃO #3 |Habitar a Memória : tecido urbano e paisagem natural : habitAÇÃO

DARQ-UC | ISA – João Mendes Ribeiro, Teresa Alfaiate, Catarina Fortuna

Para pensar os temas da habitação, mobilidade e sustentabilidade no Bairro da Cumeada, em Coimbra, estudantes de arquitetura e arquitetura paisagista colaboram na fase de projeto urbano.

Por um lado, projeta-se sobre o tecido edificado retirando o foco à ideia de densificação e, procura-se que os estudantes (re)pensem tipologias pré-definidas habitacionais. 

Por outro, valorizam-se as qualidades do território, como a estrutura de água e vegetação, para que o espaço público deixe de ter um caráter residual.

 

Plantar o Bairro

FCUP – Isabel Martinho Da Silva, Luís Guedes De Carvalho

Em vez de se trabalhar um parque, trazer o parque à malha urbana

É a proposta da unidade curricular de Arquitetura Paisagista e o Bairro da Biquinha em Matosinhos é o lugar a projetar.

Nota-se a carência de clareza do desenho urbano, e a necessidade de integrar o bairro na malha urbana da cidade. Esta realidade física espelha-se na realidade social e as propostas focam-se na libertação do solo  como forma de empoderamento das populações.

 

Debate

Reflete-se sobre a importância da disciplina de paisagismo, que não deveria ser vista como uma especialidade. Considera-se que ela deveria integrar os planos de estudo em Arquitetura, como a disciplina de História.

 

Casas entre Casas, no Bairro do Leal (Porto)

EAAD – Carlos Maia, Ana Luísa Rodrigues, Filipe Silva

O desafio é pensar a habitação unifamiliar, numa lógica de implantação em banda, para o interior do quarteirão do Bairro do Leal, de Sérgio Fernandez. 

O trabalho apresentado explora formas para o habitar, enquadradas no pensamento contemporâneo. O projeto organiza-se em altura, entre pisos a várias cotas e com coberturas habitáveis, criando alguma independência entre divisões. Tudo se organiza em torno de um pátio central e da sua luz.

O trabalho é feito com mínimo uso a ferramentas digitais. Para a definição de materialidade é feita uma maquete cenário, à escala 1:20, que é fotografada analogicamente. 

 

Regressando à Cidade Habitacional da década de 1970

ISCTE – João Maria Trindade, José Maria Cumbre, Nuno Caetano, Paulo Tormenta Pinto, Pedro Pinto

Propõe-se pensar, desde a escala urbana, propostas de intervenção para complexos habitacionais. No ano letivo anterior trabalhou-se sobre o SAAL, agora analisam-se outros projetos de habitação. 

No conjunto habitacional Cinco Dedos, de Victor Figueiredo, são tratadas questões de acessibilidade ao Vale de Chelas. Para o conjunto Pantera Cor de Rosa, de Gonçalo Byrne e António Reis Cabrita, o projeto de uma ponte e um mercado desenha a transição da malha urbana de Olivais a Chelas.

 

NUCLEO III / Relatora Gabriela Gonçalves, com moderação de Alexandra Areias

 

Experiência #2 – SMILE. Visões para o Habitar em territórios rurais peri-urbanos

FAAULN-FAMALICÃO – Rogéria Amoêda, Maria Tavares, Carla Carvalho

O conceito SMILE (Sustainability + Mobility + Inclusivity + Low-Cost + Evolutive) pretende criar um equilíbrio entre a anterior paisagem rural peri-urbana de Barcelos e a nova tradição urbana.

Neste sentido, propõe-se a ideia de uma malha urbana ajustável, sem consequências para o atual território rural. É dada prioridade à reutilização de edifícios existentes e a habitação surge no meio de núcleos de comércio e serviços. Foram também desenvolvidas soluções de lotes verticais de planta livre e flexível, que permitem aos futuros residentes adaptar as suas casas conforme as necessidades. O conceito de Bairro Intercultural enfatiza a importância da adaptação das habitações à convivência entre culturas diversas. Simultaneamente, o debate sobre estratégias de autoconstrução impulsiona o desenvolvimento urbano sustentável.

 

Atelier de Espaço Público. Recuperar a proximidade, expandir a casa

EAAD – Ivo Oliveira

A proposta busca reimaginar de forma sustentável o sistema de espaço público de três bairros de Braga, construídos nas décadas de 80 e 90, de modo a solucionar o problema de habitação desse território. 

O projeto visa unir os bairros através de ciclovias e áreas pedonais, promovendo uma circulação ecológica. Corredores conectam as habitações à cidade, incluindo caminhos para parques. Além disso, a relação com a água é valorizada, através de medidas para tornar o solo permeável e aumentar áreas verdes. Ao nível da habitação procuraram-se soluções que trouxessem o espaço público para dentro da esfera do habitar. Surgem, deste modo, casas com programas internos, como churrasqueiras. A questão da neutralização do ruído exterior foi também alvo de atenção. A plantação de massas arbóreas é utilizada de modo a abafar ruídos e promover uma melhor qualidade de vida. No total, foram desenvolvidas 15 propostas que fundem casa e espaço público, considerando como elementos principais o ruído e a relação com a água.

 

Torre Plurifamiliar. Cooperativa de habitação à Rua Gomes Freire

ULL – Filipa Oliveira Antunes, Maria Rita Pais, Bernardo Vaz Pinto, Rui Nogueira Simões

O seguinte exercício teve como foco principal a torre plurifamiliar enquanto tipologia de habitação que promove a convivência entre várias famílias, oferecendo áreas de uso tanto coletivo como privado. Neste sentido, destacam-se três das propostas de torre plurifamiliar desenvolvidas ao longo do exercício. A primeira proposta, intitulada “Praça e Torre”, integra as árvores pré-existentes na malha urbana transformando-as em pilares do futuro edifício. Ao nível dos interiores, salienta-se o cuidado no desenho dos corredores, que adquirem um caráter de espaço coletivo. A segunda proposta, denominada “L”,  sugere um edifício envidraçado em consola para observar a envolvente, oferecendo uma resposta contextual ao quarteirão. Por fim, a terceira proposta, chamada “Tripé”, desenvolve a ideia de uma torre habitacional com espaço público integrado, caracterizada pela ventilação transversal e áreas comuns incorporadas na própria estrutura, as quais atuam como espaços públicos que atravessam a torre.

 

Plantar a Cidade

FCUP – Claúdia Fernandes, Catarina Teixeira, Paulo Farinha Marques

Neste exercício, os estudantes foram convidados a otimizar a estrutura verde da cidade do Porto, de modo a promover a conectividade ecológica e social.

Inicialmente, identificaram-se as diversas problemáticas afetas à cidade. Destacam-se a redução significativa das áreas verdes, a fragmentação causada pela Via de Cintura Interna (VCI) e os problemas de inundação resultante da impermeabilização do solo. Em seguida, foram apresentadas propostas para diferentes áreas da cidade.

Em Ramalde, a intervenção no espaço público foi utilizada de forma a resolver problemas sociais, com a introdução de programas úteis e locais de participação da comunidade. Em Paranhos, um buffer da VCI foi transformado para espaços comerciais, protegidos por vegetação, reduzindo o ruído. A proposta para Cedofeita incluiu a criação de um parque público num estacionamento ilegal próximo ao metro da Lapa, tirando proveito de um espaço já utilizado pelos moradores. No Bonfim, a arborização das vias e a introdução de ciclovia foram priorizadas.

 

Cidades Criativas

UBI – Miguel Santiago, Orlando Azevedo

Este exercício procurou abordar a articulação entre programas habitacionais e equipamentos. Em Trancoso, a proposta girou em torno do cubo, explorando o tema do desenho urbano e a conexão entre a tectónica e a arquitetura. O espaço público e a habitação são considerados em termos de cheios e vazios, com pontos de mirada na cidade. Incluíram-se cadeiras como objetos de contemplação que conduziam ao castelo e proporcionaram vistas panorâmicas unificadoras do novo e do antigo.

Na segunda fase do exercício, destacou-se a síntese entre os cheios e vazios, o espaço público tornou-se o foco do projeto. Um percurso pedonal arborizado foi projetado, conectando espaços coletivos e habitação, uma atmosfera ritmada entre cheios e vazios. Espaços subterrâneos foram também desenhados com base nos movimentos do corpo humano. A arquitetura efémera é considerada uma forma de habitar a cidade, não apenas os espaços domésticos.

 

Habitação Crítica

ULL – Filipe Coutinho Quaresma, Luís Santiago Baptista, Maria Rita Pais, Nuno Griff

Esta proposta visou apresentar e debater projetos recentes vencedores de concursos de habitação promovidos pelo IHRU, bem como exemplos históricos relevantes, debatendo os desafios contemporâneos que enfrenta a habitação hoje em dia.

Dividido em duas fases, começa com uma análise das tipologias propostas anteriormente, inspirando-se em Durand. Em seguida, passa para uma fase propositiva, onde diferentes grupos compartilham as suas reflexões e propostas. O Grupo 1, por exemplo, explorou o tema da circulação no interior das habitações da Baixa Pombalina, procurando adaptar o uso de compartimentos e resgatar a leitura dos espaços de transição. O Grupo 2 investigou alguns desenhos de Piranesi e propôs criar uma cidade a partir dos pisos tipo do IHRU. O Grupo 3 debateu sobre a influência da inteligência artificial na arquitetura e os limites que os regulamentos impõem à criatividade. Por fim, o Grupo 4 apresentou um vídeo sobre o aproveitamento de um T2, demonstrando como repartições flexíveis podem ser adaptadas às transformações experienciadas pelas famílias contemporâneas. Esta diversidade de abordagens promove uma discussão rica sobre o tema da habitação, destacando questões críticas e oportunidades para inovação e melhoria.

 

NUCLEO III / Relator Mahdi Alizadeh, com moderação de Carlos Machado e Moura

 

A Casa privada e pública

ISCTE – Mónica Pacheco, Teresa Madeira Da Silva

Esta proposta pretende incorporar algumas das questões atuais da sociedade. Centrando-se principalmente em Lisboa, a proposta destaca o aumento da população e a ausência de habitação adequada. Tendo também em consideração o número significativo de edifícios abandonados, o projeto pretende estudar os espaços públicos e privados, ou seja, a casa publica e a casa privada. Tendo a noção das realidades atuais, a proposta vê o espaço público como uma oportunidade de interação entre diversas comunidades de diferentes origens, e prospera por habitar o espaço público, por exemplo praças que podem ser vistas como a extensão da casa privada. A proposta tem uma visão contemporânea do que é espaço interior e exterior, valorizando os espaços de transição como um dos princípios fundamentais. Além disso, esta proposta procura modelos de habitação que possam ser adaptáveis ​​de acordo com as necessidades de cada habitante, buscando uma flexibilidade de design.

 

Da Praia Nova Vaga ao Palácio da Ajuda

ULL – Filipe Coutinho Quaresma, Rodrigo Hozer E Brito

O princípio central desta proposta é a flexibilidade da planata. Baseia-se numa compreensão sociológica e, em vez de desenhar todos os espaços da habitação, a proposta desenha os principais espaços fixos e permite aos habitantes a liberdade de articular o espaço livre de acordo com as suas necessidades. A proposta destaca a funcionalidade da construção vertical (a torre), mas também leva em consideração as questões relacionadas à sustentabilidade, luz natural e energia. O projeto pretende conjugar os espaços a partir de um elemento de arquitetura, neste caso, a porta.

 

Arquitetura e Ideologia sobre a possibiilidade de um devir sustentável. Imaginação do suporte vivencial para a Constituição de uma Comunidade (Montemor, Alentejo). A Estação Cooperativa de Casa Branca

FA-UL – Daniel Maurício Santos De Jesus

Esta proposta está enraizada na relação entre arquitetura e ideologia, defendendo que uma nova construção deve ter em conta os cinco tópicos de energia, economia, ecologia, alimentação e segurança. A proposta estuda a cidade de Montemor e destaca a importância da infraestrutura, especialmente da Ferroviária. Pretende dar voz aos habitantes no processo de tomada de decisões. O projeto, é uma combinação de restauração de edifícios existentes, bem como a proposta de novos edifícios tendo em conta os requisitos ambientais, materiais de baixo custo, e também dos espaços públicos.

 

Mais do que Casas: Liberdade, Pluralidade e Prospetiva

FAUP – Luís Soares Carneiro, Marta Rocha, André Santos

A proposta da FAUP é uma iniciativa para abordar as questões sócio-urbanas contemporâneas mais essenciais da cidade do Porto. A proposta incorpora três semanas de workshops verticais interdisciplinares, onde docentes, investigadores e estudantes de todas as faculdades da Universidade do Porto reflectem sobre as questões de direito à Cidade, à Habitação, e à participação. Esta iniciativa está, em muitos aspectos, relacionada com o SAAL, mas numa época diferente, mas com desafios semelhantes. Além disso, a proposta tem em consideração uma visão de futuro, pensando colectivamente no ano de 2074, quando a revolução de 25 de abril completará 100 anos.

 

AÇÃO #4 | Habitar Intersocial e Intercultural

DARQ-UC – José Fernando Gonçalves, Nuno Grande, Pedro Maurício Borges

Esta proposta, conta com trabalhos de análise do contexto urbano e territorial de três locais: a habitação social no Porto Oriental; as urbanizações-dormitório na cidade de Pombal; e os bairros de pescadores na Frente Atlântica da Figueira da Foz. Especialmente, no caso do Porto, o estudo focal gira em torno da infra-estrutura e da VCI, definindo assim a estratégia morfológica urbana para melhor compreender as intervenções locais necessárias. A proposta defende que o problema da habitação está diretamente ligado ao problema urbano, devendo a proposta abordar simultaneamente ambos os temas.

 

NUCLEO IV / Relatora Elea Gomes, com moderação de Sílvia Ramos

 

Paisagens de Complementaridade

UALG – Universidade do Algarve – Paula Gomes Da Silva, Inês Gadelha Duarte, Miguel Reimão Costa

A apresentação, realizada pelos da Universidade do Algarve, expôs uma análise intitulada ‘Paisagens de Complementaridade’. Considerando uma abordagem holística que abrange diversos aspetos, como localização geográfica, clima, recursos hídricos e uso do solo, os alunos da UALG frisaram a importância da compreensão desses elementos como uma ferramenta fundamental para a eficaz e sustentável construção da paisagem contemporânea, tanto em relação aos seus usos edificados quanto não edificados. A análise exposta introduziu a “Ideia de Paisagem Global” como uma interconexão de todos os elementos do espaço urbano, desde os ecossistemas naturais até as atividades humanas. A partir desta ideia, foram estudados alguns aspetos, tais como: o mapa de aquíferos indicando a precipitação anual e as diferentes superfícies da água no território; a temperatural anual que se revela crescente; a carta de uso de ocupação do solo, que representa um elemento essencial para a habitação, servindo como guia para regular produção e informação, e necessárias para conhecer e estabelecer níveis de conservação para garantir a sustentabilidade. Com isto, os alunos avançaram com soluções para o concelho de Olhão, no Distrito de Faro, com o projeto de um espaço público urbano eficaz no combate aos efeitos climáticos previamente mencionados, além de atender às consequentes necessidades sociais. A análise das paisagens de complementaridade revela a complexidade e interdependência dos sistemas terrestres. Uma abordagem integrada que considere aspetos como clima, recursos hídricos e uso do solo é essencial para promover a sustentabilidade ambiental e o bem-estar humano.

 

As Forças Invisíveis

ISMAT – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes – Vítor Alves, Nadir Bonaccorso

O exercício desenvolvido pelos alunos do ISMAT, incidiu sobre o turismo, que se tornou a principal força transformadora da paisagem urbana do Algarve, em específico, Portimão. Foi apresentada a evolução da ocupação da cidade, com três grandes núcleos distintos emergindo ao longo do tempo. Sendo esses: a fundação, onde a cidade teve origem; a área industrial de conserva, que se tornou uma força motriz para o turismo na região; e as zonas desocupadas, que foram convertidas em áreas residenciais para atender às necessidades sociais. Esta evolução destaca as mudanças na ocupação e no desenvolvimento da cidade ao longo do tempo, refletindo diferentes atividades econômicas e demandas da comunidade. Apontou-se que durante o verão, os turistas superam a população residente, exacerbando a escassez de residências, o que enfatiza a problemática da ocupação urbana da cidade, cada vez mais dependente do turismo e que desenvolve em função do mesmo. Isto provoca a consequência a que chamaram “cidade fantasma”, sem os turistas a cidade fica vazia. Este descontrole do turismo levanta questões ambientais, sociais e organizacionais, tanto à escala da casa como à escala da cidade. Por exemplo, valorização das tipologias T0 e do T1, por serem destinados a visitantes de transição, e a fragmentação dos edificados, ou seja, uma divisão ou separação de estruturas, em partes menores ou unidades individuais. Portimão atualmente não é uma cidade contínua e integrada, mas sim composta por áreas distintas ou separadas. Isso sugere que há uma falta de conexão ou continuidade na experiência da paisagem em Portimão.

 

Debate

“Como se habita uma cidade turística?”.

Foram discutidas algumas soluções que devem ser preconizadas para esta questão. Falando na necessidade de equilibrar a população residente e visitante e de despoletar/ancorar esta população esta população em transito e transformar em população residente. Foram também apontadas outras zonas, tal como o sul de Espanha, que tal como o algarve, é ‘vitima’ de um clima e localização atrativo. Foi ainda questionado de que forma pode resolver-se esta situação e como seria benéfico reverter a nosso favor a problemática do turismo excessivo.

 

O ‘outro’ Quarto

UALG – Universidade do Algarve – Paula Gomes Da Silva

A proposta dos alunos da UALG, veio responder a duas dificuldades que o algarve enfrenta. Um problema de justiça social, casas sobrelotadas e um problema de justiça climática – casas mal equipadas para o clima atual. Levantando a questão: Espaço publico poderá ser este quarto extra que as famílias precisam? O que é que os moradores precisam de fazer fora de casa? Foram apresentadas pelos alunos da U.C. Projetos de Arquitetura Paisagista II no 2º ano da licenciatura, oito propostas para esse quarto, desafiados a refletir, de forma criativa, no movimento Novo Bauhaus Europeu. Foram abordados com atenção os fatores do aumento da temperatura, ondas de calor, solucionado com a criação de sombras e vegetação; com a escassez de água e seca, recorrendo à purificação e reciclagem da água; e ainda no combate à falta de espaços verdes públicos. Entre as propostas sugeria-se espaços para a comunidade, espaços de brincar, passear e fazer desporto, espaço promotores da vegetação e do ciclo da água, e espaços que se conectassem com as mudanças sazonais.

 

Regenerando o Desenho da Cidade

ESAP – Escola Superior Artística do Porto – Paolo Marcolin, António Barbosa, Fátima Fernandes

Esta sessão baseou-se na apresentação de projetos para requalificação de espaços verde e espaços para a comunidade, em torno da zona da VCI, elaboradas pelos alunos da ESAP. Estas procuram transformar aquele território num espaço urbano mais proveitoso para a comunidade, trazendo ideias como: a criação de um parque urbano, a transformação num quarteirão de zonas verdes, abertura de uma praça central para promover o encontro social e a interação, construção de um novo equipamento funcionando como centro cultural, requalificação de edifícios abandonados e transformação em cooperativas, estufas, restaurante, zonas de plantação e espaços de coworking. Pelo quinto ano foi feita uma abordagem mais detalhada com foco nos bairros que se encontra no território em analise. Este trabalho selecionou bairros em confronto com a VCI que careciam de uma intervenção atenta, procurando redesenhar alçado, e elaborar um novo centro de habitação que responde ao problema de habitação dos Porto. Propuseram novos espaços para os cidadãos, disponíveis para acolher tanto os residentes como os turistas, e também unir as duas faixas do Porto ao longo da VCI. Um trabalho que se descreve como uma metamorfose para substituir, ampliar e reabilitar, e assim modelar, transformar e subtrair.

 

Debate

Neste breve debate frisou-se a importância da geração jovem se envolver nestas preocupações e pensar o futuro da habitação do Porto de uma forma eminente.

 

Habitar os Lugares do Passado Reabilitação, Reconversão e Reúso do Património Construído de Matosinhos

FAAULN – Universidade Lusíada-Porto – Miguel Malheiro, Alexandra Saraiva

O trabalho dos alunos da FAAULN visou a analise e elaboração de propostas para espaços com potencial para reaproveitamento ou reabilitação, na medida de promover a sustentabilidade das ruínas que se espalham por Matosinhos. Os alunos procuraram edifícios que necessitavam de intervenção, analisaram o seu estado de conservação e propuseram um novo uso ou novas condições. O Bairro da Caixa de Previdência da Indústria Têxtil, exigia a regeneração do espaço público, a reabilitação das habitações, mais concretamente das tipologias, e análise/atuação do estado de conservação. A Fábrica de Conservas Vasco da Gama com a sua reconversão, foi proposto para este espaço a transformação de um edifício industrial em granito, betão e com cobertura metálica, para um edifício habitacional. E o Palacete do Conde de São Salvador, onde se procurou manter e conservar o palacete original e construir um anexo destinado a habitação sénior no logradouro do terreno. Assim a sessão sugere a requalificação de edifícios de natureza patrimonial, como solução ao problema da habitação da cidade.

 

NUCLEO IV / Relator António Lopes Cardoso, com moderação de Pedro Bragança

 

Cidade / Água / Habitar 

UAL – Inês Lobo

Introdução feita pela Professora Inês Lobo. A apresentação foi realizada por alunos com orientação do Professor Ricardo Bak Gordon, tendo ficado marcada pela investigação e criação de diferentes propostas realizadas por alunos em diferentes momentos do percurso escolar de arquitetura. Este trabalho foi realizado por meio de um manifesto sobre diferentes áreas da cidade de Lisboa e a sua comunhão com o estuário do rio Tejo, como novo centro da cidade. Esta revalorização da água e do estuário prende-se com a criação de uma nova frente, uma nova marginal, harmoniosa composta por um novo conjunto habitacional e de produção, sob os princípios da autossustentabilidade financeira e o desejo de resposta a problemas futuros, do amanhã.

 As apresentações debruçaram-se sobre o repensar e criar a cidade com o valor da adaptabilidade com a paisagem existente, mais concretamente com a água. Muito defendida como sendo a ponte do relacionamento humano e a resposta a problemas de interação social e de solidão. Ao mesmo tempo, fez-se notar a confiança na corrente de água da cidade como criadora de novos espaços consolidados, promotores de relações humanas. Conclui-se que o papel da arquitetura é crucial para a obtenção de uma cidade relacional, uma cidade que cresça e se relacione com a própria rede de água.

 

A Jangada de Pedra

FA-UL – Jorge Mealha

A introdução feita pelo professor. Ao contrário da última intervenção da FA-UL, no “Encontro 1”, foram os alunos a gerir a apresentação de todas as propostas finalizadas no 1º semestre do corrente ano letivo. Paralelamente à UAL, o exercício teve como base o estudo da relação da malha urbana com a frente de água do rio, para a criação de uma zona de habitação e atividade comercial. As propostas atuaram sobre a reta do Dafunto no Município de Oeiras com o raciocínio das diversas possibilidades de reassociar a pré-existência à linha de costa e dar continuidade a um sentido e capacidade de construção à própria marginal. 

Dos diversos grupos de trabalho foi possível notar uma série de condicionantes e um fio-condutor, que permitiu a todos realizarem as suas propostas sobre os mesmos moldes e com coerência. Numa visão geral, as intervenções tomaram especial atenção ao património local construído; ao aproveitamento da topografia do terreno com especial foco no piso térreo e a sua comunhão com a frente de água; ao movimento da linha de água e respetivo desenho costeiro, fruto das marés; à origem de novas relações sociais e humanas e à flexibilidade tipológica de habitação.

 

Uma Casa para Todos

ISCTE – Pedro Mendes

Apresentação inicial do Professor Pedro Mendes que se seguiu de apresentações proferidas por alunos do 3ºano. Os trabalhos debruçaram-se sobre a habitação coletiva no bairro de Alvalade em Lisboa. Durante o primeiro semestre do presente ano letivo os alunos procuraram dar uma resposta a um fragmento da cidade, um vazio, no meio de um quarteirão consolidado. A proposta de trabalho visava a projeção de uma casa-atelier, para os próprios, com uma área de trabalho. Associado ao programa, temas como a linha ferroviária adjacente, a empena e o piso-térreo como ligação direta com o espaço público, foram necessários, para desenvolver a perceção e sensibilidade do que já existe. Consequentemente foram realizados casos de estudo, por meio de maquetas, sobre edifícios já existentes. 

 

AÇÃO #2 – Habitar o Espaço Público 

DARQ-UC – Armando Rabaça

Apresentação inicial do Professor Luís Sobral sobre a adaptação do programa letivo do 2º ano ao programa do “Mais do que Casas”, mais concretamente na elaboração de um equipamento em contexto urbano que responda a um problema existente e atual. A escolha da localização do terreno ficou marcada pelo desafio empregue ao trabalho em sair da região de Coimbra e optar por um território mais no interior do país, com alguma facilidade de acessos. Posto isto, o trabalho apresentado desenvolveu-se sobre a vila de Soure e, por sua vez, a consolidação do largo das Amoreiras e o equipamento coliving para imigrantes. O grande tema foi o habitar o espaço público e a comunhão com o património histórico da vila. Como forma de aprofundamento e abertura do espectro de trabalho optaram pelo estudo intensivo de casos. 

 

Metrópole Rural

UBI – Jorge Marum, Andreia Garcia, Pedro Gadanho

Uma apresentação organizada de forma diferente das anteriores, desenvolvida e direcionada exclusivamente pelos alunos. Resultado de um trabalho de 1º semestre do 5º ano do curso. A “Metrópole rural” aborda os temas do aquecimento global, tais como as alterações climáticas e o cuidado ecológico adjacente em projetar as novas e já existentes zonas urbanas. O termo utilizado do “urbanismo ecológico” partiu do exercício constante em criar uma simbiose entre o natural e o urbano na região da Cova da Beira, local destinado para a intervenção do projeto. Regime hídrico favorável. Parque natural da serra da estrela.

Lançado o desafio, os alunos proposeram uma abordagem sustentável para o desenvolvimento de uma área em estudo, integrando três perspectivas: a ecologia, a utilização dos recursos e a economia sustentável. A estratégia central estava assente na criação de um parque que visava repensar a produção agrícola, considerar a escala urbana e promover a reflorestação entre o rio Zêzere e a principal via viária. Consequentemente, procurou-se usufrir da água afluente do rio para a revalorização das frentes do rio e a implementação de sistemas de purificação da própria água. Além disso, sugere-se associar os caminhos existenes com tráfego cicloviário, controlando o acesso viário de grande escala com a rearborização. O objetivo é promover o convívio entre a natureza, o patrimônio construído local, meios de transporte sustentáveis e espaços de convívio humano inseridos na natureza, contribuindo para um ambiente livre de CO2.

Associado a todo um planeamento urbano e arquitetónico foi realizado um discernimento sobre o problema social emergente do exodo rural, solucionando com o acolhimento de imigrantes, numa região com uma densidade populacional muito reduzida.

 

Construção Offsite – O Edifício como produtoindustrial

FEUP – Bárbara Rangel

Inicialmente apresentada pela Professora Bárbara Rangel, a apresentação baseou-se  numa série intervenções que envolveram alunos internacionais e portugueses em estudos internacionais, focados na mão de obra no setor da construção civil, especialmente na habitação. Propôs-se o conceito da construção modular como acelaração do processo construtivo, tornando-o mais sustentável e reduzindo a necessidade de mão de obra no local. Destacou-se a ideia da “casa lego”, através de espaços internos multifuncionais, utilizando módulos construídos fora do local e pré-concebidos, para uma maior eficiência no tempo e trabalho. A apresentação foi complementada por meio de renderizações e vídeos explicativos das propostas. Além disso, foram discutidas estratégias de expansão dos próprios módulos e sustentabilidade energética. Foi também mencionada uma mudança de mentalidade na construção, com uma maior atenção na economia circular e na pegada ecológica. A arquitetura modular foi aplicada tanto para a habitação estudantil quanto para residências séniores, com estudos sobre elementos construtivos, pré-fabricação e parametrização dos edifícios propostos.

 

 

© Egídio Santos / Mais do que Casas – Encontro Chamada de Ideias – Abril 2074 #2, Pavilhão Carlos Ramos – FAUP

Encontro 3

02/03.05.2024 | DARQ-UC

Com a Chamada de Ideias #3 conclui-se o espaço de intercâmbio e de partilha, central à iniciativa Mais do Que Casas. 

Para além dos aspetos relacionados com o conteúdo que a seguir se desenvolverão, destaca-se a competência dos alunos na comunicação dos seus trabalhos, nos seguintes aspetos:

Capacidade de síntese: na sua maioria os trabalhos respeitaram o tempo que lhes estava destinado e as apresentações centraram-se nos elementos essenciais para a eficácia da comunicação;

Variedade de suportes de comunicação: os alunos socorreram-se de diversos suportes para fazerem as suas apresentações, adaptando-os de forma adequada aos conteúdos. Para além do recurso às representações convencionais da disciplina, plantas, cortes e alçados, esquissos e maquetas, recorreram a vídeos, fotografias, gravações, imagens de arquivo e até apresentações performativas. Esta multidisciplinaridade e cruzamento disciplinar permitiu não só uma comunicação mais eficaz, mas também contribuiu para as sessões de debate alargando o seu âmbito:

Debate: Os alunos mantiveram-se atentos e participativos respondendo com pertinência às questões colocadas. Como aspeto menos positivo refere-se a ausência de questões postas pelos alunos;

Releva-se, no entanto, o interesse, empenho e até entusiasmo colocado nas apresentações.

Comprovam-se, através dos trabalhos apresentados e dos testemunhos de professores e alunos, as virtudes do Programa Mais do Que Casas que, ao pôr em confronto os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, as interpretações e orientação dos professores, das escolas e dos cursos, abrem horizontes e permitem a contextualização de realidades, por vezes, fechadas e parciais. Este facto expressou-se no choque com a realidade evidenciado nas apresentações. As entrevistas à população, a consulta de arquivos de rádio televisão e de outros órgãos de comunicação ou a vivência performativa, provocaram e provocam a discussão e trazem a dureza da vida quotidiana para o espaço escolar, reafirmando a escola como um lugar de ensino de projeto de Mais do Que Casas. 

Procuraremos aqui reunir em vários grupos temáticos as apresentações a que pudemos assistir a partir das impressões recolhidas pelos relatores Bruno Gil (BG), Carlos Martins (CM), Bruno Baldaia e Conceição Melo (BB, CM):

 

Academia versus contexto real.

> O real como ponto de partida para o estudo e a reflexão; os lugares de intervenção.

As propostas de intervenção tiveram como preocupação a eleição de lugares específicos. Deram relevo a projetar a partir de uma realidade existente, centrando a atividade disciplinar na resolução de problemas concretos. Do estudo de um lote (ULL) à análise de aldeamentos em territórios de fronteira (FAUP + RIA), da intervenção em vazios urbanos na cidade consolidada (EAAD-UM) ou em espaços sobrantes na cidade menos consolidada (ISCTE, DARQ), ou ainda na reformulação de um pequeno núcleo rural (DAMG-UPT), os trabalhos tiveram como preocupação “desenhar com o que existe”, tendo como matéria de estudo e de reflexão o reordenamento dos lugares de intervenção. (CM)

> Tempo e registo

Foram várias as apresentações que compilaram referências para construir um novo olhar crítico sobre elas, de alguma forma assistimos agora a um ‘baralhar para voltar a dar’. Encaram-se elementos preexistentes como possibilidades de continuidade deixando cair o impulso de substituir o que existe sempre que uma mudança é necessária. A consideração do que existe, muito para lá do valor como património, apareceu frequentemente como ponto de partida aproveitando o seu potencial nas mais variadas formas – como material, como marca do tempo num lugar, como resgate, ou como possibilidade para modelos híbridos que se focam mais na continuidade do que na disrupção. Neste sentido, os registos e os arquivos, têm a importância de conduzirem à construção de visões críticas sobre os modelos especulativos passados e vigentes e permitirem ao “sonho” a sua fundamentação. Estão neste caso os trabalhos de investigação feitos pelos alunos do ISCTE sobre os arquivos da RTP, que proporcionam uma visão histórica sobre a dimensão social, económica e política da habitação, fundamentando a sua visão prospetiva. 

Também a mobilização da FAUP no seu todo, durante três semanas para o Mais do Que Casas, motivou os alunos ao contacto direto com áreas problemáticas na cidade, onde os direitos à habitação, à cidade e à participação estão ameaçados e levou a reflexões que ultrapassam o estrito campo do projeto, enriquecendo o debate com um manifesto.

Estas abordagens vieram contextualizar as propostas, que incidindo sobre o campo estrito da disciplina arquitetónica, atuam mais a nível tipo-morfológico do que estratégico e programático. 

Outras escolas optaram ainda por considerar, como matéria para informar o desenvolvimento do trabalho, a regulamentação urbanística e legal e ainda as opções de política urbana. Para tal, alguns dos cursos iniciam o trabalho pela análise crítica das opções para os diferentes territórios previstas nos instrumentos urbanísticos e documentos de política urbana para proporem alternativas. 

O estudo de assentamentos espontâneos, à margem da legislação urbanística, há muito identificados, mas que por serem de difícil resolução, se perpetuam, foram caso da Universidade Lusófona de Lisboa, que se debruçou sobre uma AUGI (Área Urbana de Génese Ilegal) em Almada, tentando encontrar regras urbanísticas que permitam infraestruturar e qualificar o espaço, mantendo os moradores no local onde habitam. (BB, CM)

> Processos e métodos

As questões metodológicas foram colocadas de modos diferenciados, mas assinala-se os exercícios sobre os sistemas modulares associados a  soluções evolutivas na composição do espaço doméstico (ULL); o levantamento exaustivo de um núcleo rural inserido no corredor verde do rio Leça, com a proposta de uma comunidade agrícola de autoprodução e de autoconsumo, numa experiência colaborativa com a comunidade local (DAMG-UPT); a reabilitação da Ilha da Bela Vista, no Porto, um exemplo de processo participativo e comunitário, funcionando a arquitetura como um “equalizador social” (EAAD-UM); e o mapeamento de comunidades raianas do Norte de Portugal e da Galiza, enquanto espaços de fronteira mas também de refúgio e de relação, com relações comunitárias históricas e dinâmicas, e que se configuram como “lugares legíveis e elegíveis para os programas europeus de coesão territorial” (FAUP + RIA). (CM)

> Que pessoas?

As circunstâncias particulares dos territórios do litoral, pautados pela esfera económica adstrita ao turismo, foram alvo de alguns dos programas curriculares. Perspectivaram-se habitações, equipamentos e espaço público enquanto lugares de sobreposição de “residentes anfitriões” e “visitantes turistas”, onde os limiares da coabitação, enquanto programa e expressão construída, são testados (DARQ-UC). Toma-se consciência das populações de migrantes invisíveis a laborar na pesca na Figueira da Foz. No Algarve, enfrentam-se as redes invisíveis de exploração e sustento da economia do turismo, evidencia-se a prevalência dos investimentos privados, expõe-se a hegemonia liberal do alojamento local sazonal (ISMAT). A diversidade cultural desponta como tema, a integração de comunidades ciganas na cidade surge como questão (DARQ-UC), e conceitos abertos como “multicultural” e “intersocial” motivaram o debate para além da disciplina. (BG)

 

Habitar a cidade / a cidade como casa.

> Que cidade?

Invoca-se o acesso à cidade como direito das comunidades e apela-se à densificação, à infiltração e à permeabilidade como meios de o atingir (FAAULN). Espaços expectantes no miolo dos quarteirões – elemento estrutural da cidade – são alvo principal do projecto de densificação. Assumidamente configurados entre o privado e o público, são “lugares em pausa” à espera de serem reativados. Podem ser o “outro quarto” da casa, quando entendidos programaticamente como lugares de transição (UALG). Nestes, os cruzamentos entre a arquitetura e a paisagem podem encontrar terreno fecundo, alerta-se no debate final motivado pelas escolas que se dedicam a cada um daqueles desdobramentos disciplinares. Afinal, a cidade é a casa para o maior número – de habitantes e de atores – que contribuem para a investigação colectiva da casa comum, do chão partilhado que pisamos. (BG)

> Como se desenha o coletivo?

A consideração do espaço público como “extensão da casa, catalisador de encontros e ligante da cidade” enfatizando a dimensão política da arquitetura, foi constante, ainda que de forma mais ou menos consciente, nos trabalhos desenvolvidos e apresentados. 

Muitos dos trabalhos refletem sobre a ligação entre o privado e o público, nas suas diversas dimensões, procurando explorar as suas qualidades específicas deste último, de modo a ultrapassar o conceito vazio de “espaços verdes”.

A apropriação de espaços desocupados para uso público, ou a recuperação de espaços monofuncionais para novos usos mais alinhados com os desafios atuais, estiveram no centro das preocupações.

Trazer a domesticidade para o espaço público, atitude provocatória e política, encenada pelo aluno da FAUP, que viveu em espaço improvisado no espaço exterior da FAUP, chama a atenção para a falta de habitação, para a falta de alojamento para estudantes e programa o espaço improvisado com atividades, momentos de discussão, de convívio e de lazer.

Esta temática, a habitação para estudantes é repegada nos trabalhos da Escola das Artes da Universidade de Évora, que estudam modelos programáticos, reinventando as “repúblicas” ou apropriam-se de edifícios desocupados, para explorar novos modelos de viver coletivamente. Ou ainda, em alguns dos trabalhos o desenvolvimento de soluções passíveis de serem reprogramadas em função das necessidades: um hotel que se pode transformar em residências para estudantes, ou para situações de emergência, tema explorado no trabalho da DAMG-UPT.

O aprofundamento da reflexão sobre as infraestruturas, agora entendido de um modo mais alargado, no qual se incluem as infraestruturas azuis, os rios e ribeiros e frentes marítimas, e verdes os parques, a estrutura verde, a permacultura, são exemplos da densificação de conteúdo do espaço público. (BB, CM)

> O todo e as partes; as múltiplas escalas de trabalho

Os exercícios de projeto e de investigação abrangeram as múltiplas escalas de intervenção, desde o espaço mínimo de habitar ao ordenamento urbano e territorial. Neste sentido, foi relevante em muitos trabalhos o cuidado na articulação entre as unidades habitacionais e os conjuntos residenciais, ou a atenção às relações entre o edificado e a envolvente próxima e, por vezes, mesmo com a envolvente distante. Este cuidado prolongou-se no desenho dos espaços de intermediação entre o interior e o exterior, e dos espaços de transição entre o público e o privado; na organização e qualificação do espaço público entre bairros, em associação à proposta de equipamentos sociais de proximidade e ao ordenamento das vias de circulação, dando resposta a novas formas de mobilidade. (CM)

> Habitar Lugares do Passado

A reconversão de espaços históricos para habitação levou os alunos a refletirem sobre memória e identidade e sobre como novos usos podem ser compatíveis com este património. Esta é uma questão pertinente que ultrapassa o universo dos imóveis classificados, como tal salvaguardados, para se alargar a muitos outros que não tendo esse estatuto, tem um valor cultural e afetivo que não se pode ignorar, tema especificamente tratado nos trabalhos da FAAULN, mas também refletido nos trabalhos da DARQ-UC ao trabalharem na Vila de Soure, em espaço urbano consolidado. (BB, CM)

 

Revisitar Nuno Portas.

> Nuno Portas

Foram várias as apresentações que citaram ou se referiram a Nuno Portas e há todas as razões para que se torne, neste âmbito, uma personagem tão referenciável. É a figura-chave do Processo SAAL e é dos arquitectos portugueses mais empenhados na discussão da habitação fora de um universo estético estrito. A sua importância como pedagogo e divulgador de novos modelos urbanos foi referida, quer através de revisitas a intervenções do SAAL como na abordagem a políticas de cidade. 

Portas insistiu sempre na participação dos arquitectos nos processos de decisão que antecedem o projecto. Quer como crítica ao esforço concentrado dos arquitectos na discussão estética do edifício enquanto objecto, quer como apelo à implicação da disciplina nas decisões que, de facto, determinam a sua acção. Discutir políticas públicas e regulamentos (como o matricial RGEU) desde a arquitectura traz-nos traços da sua presença. ‘O que mudavas no RGEU?’, uma proposta da FAUP relembra esse lugar de discussão onde os arquitectos devem estar. De igual forma, voltar a discutir os processos participativos, relacionar modelos de financiamento (públicos, privados, cooperativos) com soluções tipológicas ou de inserção urbana, como vimos em várias propostas de trabalho (FAUP, EARTES-UE, ULL), rememoram-no. (BB, CM)

> Modelos de habitar

Os modelos de habitar foram objeto de aprofundamento em vários exercícios de projeto.  Tiveram como propósito a reflexão sobre os programas habitacionais e sobre os sistemas tipológicos, considerando a diversidade de modelos de agregado familiar. Salienta-se o trabalho para habitação coletiva num quarteirão do centro de Guimarães que utiliza a Unidade de Marselha, de Corbusier, como modelo programático a desconstruir e remontar (EAAD-UM); e o trabalho para os bairros de Chelas, Restelo e Zambujal, onde se propõe o regresso aos exemplos habitacionais dos anos 1970 para se fazer cidade (FFH e SAAL) e, em simultâneo, o estudo das investigações sobre morfologia urbana de Nuno Portas no LNEC (ISCTE). (CM)

 

Materiais, tecnologias, soluções construtivas.

> Habitação: materiais e soluções construtivas.

Tendemos a secundarizar nestas discussões e reflexões as condições reais de implementação dos programas ou projectos a que chegamos. E, no entanto, é frequentemente na consideração pragmática das suas condições que podemos muitas vezes garantir a eficácia daquilo que propomos. Construir é uma condição concreta e assistimos a várias abordagens quer a novos materiais e sistemas, quer à recuperação de outros de que conhecemos pela História a sua adaptabilidade. Num momento em que a sustentabilidade nos faz reconsiderar um panorama a partir de um novo ponto de vista foi importante assistir a comunicações e debates que nos levam a intervir de forma diferente e reflectir qual o impacto que isso poderá ter sobre forma e linguagem, mas também sobre o impacto que percebemos na paisagem, nas cidades e na economia. 

O contributo dos alunos da Universidade de Aveiro, com a apresentação de um modelo de solução pré-fabricada, para adaptação às necessidades de construção com melhor conforto térmico e menor consumo de recursos na construção enriqueceu o debate. (BB, CM)

> Materiais e tecnologias

Na diversidade de propostas, onde cada caso é um caso, as soluções apresentadas vão dos métodos mais tradicionais e locais de construção e de materiais, como é o exemplo do projeto para a reabilitação dos Moinhos do rio Leça (DAMG-UPT), aos métodos mais avançados e ainda em fase experimental, como é o exemplo da nova tecnologia de construção por impressão 3D, que tem como objectivo a redução do desperdício e da quantidade de mão-de-obra, na tentativa de diminuir a pegada carbónica, potenciando a vertente industrial da atividade construtiva e a capacidade de adaptação dos edifícios às alterações climáticas (FAUP). (CM)

 

A habitação.

> Que casa?

Estes questionamentos entroncam em investigações disciplinares de âmbito tipológico da casa, inquiridoras das dinâmicas e normalização do mercado imobiliário. Verificou-se nos trabalhos como a interpelação das tipologias e convenções surgia acompanhada por gradações de comunidade, do individual e da privacidade interior, para o colectivo e da partilha exterior. Questiona-se o conceito de “mínimo”, testam-se espaços volantes, sem função e direito de uso pré-definido, o que alimentou o debate numa perspectiva de futuro – que gestão, que manutenção para aqueles espaços? Noutro cenário, assume-se a revisão de planos e projectos já aprovados de vocação eminentemente imobiliária e simula-se a sua reconfiguração, critica-se a sua segregação, em busca de uma articulação franca com a cidade. A habitação surge em sintonia com a experiência que a cidade nos lega – é o suporte da estrutura urbana, por excelência (FAAULL). (BG)

> De quanto espaço precisamos?

A reflexão performativa dos alunos da Universidade Lusíada de Lisboa, vão à essência desta questão. A relação do corpo com o espaço e com a auto-produção desse mesmo espaço leva à reflexão sobre o modo como o habitamos, partindo de elementos e conceitos básicos: Estojo/estudo/estúdio; Jogo/padrão/ geometria; Escada/escala; Intercepção/cruzamento; Clausura/refúgio.

Centrando-se na essência da disciplina, muitos são os trabalhos que refletem sobre a tipologia do fogo, a articulação dos fogos, a relação destes com o espaço coletivo ou ainda a exploração de tipologias que exploram programas de coabitação.

O fogo abstrato, concretiza-se nalguns dos trabalhos para adaptação a habitantes particulares: estudantes, grupos de amigos, sem abrigo, grupos étnicos, comunidades específicas, emigrantes, idosos, famílias não convencionais, etc. A reflexão feita, patente nos trabalhos apresentados, aponta modelos que favorecem a multiculturalidade e o interclassismo, explorando soluções de tipologias evolutivas e flexíveis, com programas de base colaborativa, dando atenção às formas de agregação para proporcionar a existência de espaços de sociabilidade adaptados às diferentes manifestações sociais e culturais. 

A disciplina é contaminada pelos problemas sociais, ganhando uma dimensão política que a enriquece. (BB, CM)

 

Arquitectura multidisciplinar.

> Qual habitar?

Tornar o conceito disponível ao questionamento, nas suas múltiplas dimensões, foi objectivo de grande parte das apresentações. Alguns trabalhos partiram precisamente de uma lente especulativa, colocando questões abertas aos imaginários, críticas da disrupção contemporânea dos modos de habitar. Os desenhos são complementados por outros suportes de projecto, como a narrativa e o vídeo, apelando a espectros representativos, até de natureza psicogeográfica (ISMAT). É de frisar como esta interpelação saiu potenciada quando programas curriculares foram partilhados entre escolas (FAUL, FBAUL), onde abordagens meta-curatoriais e para-arquitectónicas permitiram uma partilha construtiva entre comunidades de estudantes. Se no debate se falava que a arte colocava questões e a arquitectura apresentava soluções, as articulações entre a arquitetura e a arte demonstraram ser concomitantes. (BG)

 

Infraestruturas.

> Qual o papel do Automóvel no futuro?

As grandes infraestruturas de mobilidade, vias coletoras, linhas férreas, que provocam situações de rutura nos tecidos urbanos, ponto de partida para muitos dos trabalhos, foram considerados como uma ameaça à qualidade de vida urbana. Os alunos da ESAP e da FAAULN, reflectem sobre a VCI, no Porto, os da FAUP, sobre a Circunvalação. No entanto, na maioria dos casos, as soluções desenvolvidas não contêm a radicalidade de repensarem o papel do automóvel. São soluções que contornam o problema, sem pôr em causa um dos principais responsáveis pela qualidade urbanística e ameaça ambiental: o automóvel privado. Reformulam-se os perfis das vias, projetam-se passagens desniveladas, enterram-se vias, sobrepondo a realidade desejada com a permanência da atual organização do sistema de mobilidade, onde o automóvel individual é protagonista.

A pergunta formulada no debate – qual o papel do automóvel no futuro? – ficou sem resposta explícita nos trabalhos ou na sua justificação, servindo, no entanto, como mote de reflexão futura. (BB, CM)

 

Paisagem / Território.

> Infraestruturas azuis

As linhas de água, entendidas como uma oportunidade para a criação de espaços de lazer, mas também como ecossistemas naturais essenciais para a criação de biodiversidade e de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, foram temas tratados pelos alunos de muitas das escolas, com destaque para a FAUP e DARQ-UC. Viver o Rio, reconhecer e valorizar o património associado aos rios, estruturas hidráulicas e moinhos, foram temas referidos que fazem definitivamente parte da matéria e das preocupações do ato de projetar. No caso dos projetos que incidem na orla costeira, os trabalhos investigam soluções que se defendam e adaptem aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente o aumento do nível da água do mar e consequente reflexo na linha de costa.

As diversas formas da água, o modo como elas estão presentes na paisagem urbano-rural, foram trazidas à reflexão e debate pelos alunos das escolas de paisagismo (FCUP e UALG).  Desenhar com a água e saber ler o desenho da água são instrumentos necessários à qualificação do território e à conexão e integração entre homem e natureza. Esta visão alarga o conceito de habitar, considerando não só o homem como habitante, mas todos os outros utilizadores da cidade, todos os seres vivos. (BB, CM)

 

> A dicotomia rural/urbano ainda existe?

As propostas de trabalho da FAAULN-Famalicão e a UALG trouxeram propostas de trabalho que põem o problema da relação entre o universo das soluções propostas e o seu contexto. A procura de respostas para a diversidade de problemas que a habitação nos traz tem sempre a tentação da sistematização. Mas é igualmente certo que os contextos são decisivos para a sua eficácia. Os alunos de Famalicão apresentaram nos vários encontros propostas para ocupações periurbanas que procuraram não adoptar os princípios genéricos de intervenções tipicamente urbanas ou suburbanas encontrando no território os princípios para outras abordagens com outros fundamentos de desenho e de projecto. A apresentação da Universidade do Algarve procurou encontrar nas dinâmicas económicas e culturais existentes no Barrocal Algarvio razões para a fixação de população e das formas para o seu assentamento. Estas propostas lembram a importância do conhecimento do território e da necessária autonomia para gerar as suas próprias propostas. Perante a evidência de ser o despovoamento das áreas periféricas aos grandes centros urbanos, ou da concentração litoral, um dos principais problemas do país é importante procurar outras soluções para problemas que reclamam atenção específica e autonomia. É tempo de perceber se o país quer ser uma grande cidade contínua, nas suas variantes, ou se a sua ocupação é uma necessariamente mais complexa. (BB, CM)

 

Arquitectura e ideologia.

> Turismo/Gentrificação

Os temas da gentrificação e do turismo tem tido um papel importante nas transformações recentes nas cidades e naturalmente aparecem refletidos em alguns trabalhos, em particular nos que se localizam nos grandes centros urbanos, Lisboa e Porto. Formas alternativas de turismo, que podem configurar oportunidades ou ameaças ao direito à habitação, aparecem ainda refletidas em áreas de pressão turística, sazonal e interna, como é o caso da Figueira da Foz. Também aqui se observa a necessidade de se estruturar uma visão crítica sobre estes processos e não apenas a tarefa de lhes dar forma desligada daquilo que os origina. (BB, CM)

> Arquitectura e ideologia

Muitas apresentações trouxeram à evidência que os modelos urbanos dependem de estruturas ideológicas que os sustentam, e não é possível analisar separadamente o impulso e o resultado. Também aqui se revisitaram autores e obras onde essa presença é explícita. É curioso verificar que num momento em que ideologias são desmontadas dos seus suportes e se considera que a única coisa absoluta é a relativização (e o deserto de pensamento sustentado que ela provoca), a necessidade de reorganizar os fragmentos que ficaram soltos de nexo e significado é um trabalho para os arquitectos hoje. Arquitectura e ideologia foi um tema explícito nestas sessões e ficámos com a percepção de que uma reorganização da disciplina está presente nas preocupações dos alunos e com um alcance mais profundo do que até há pouco tempo poderia ter sido possível antecipar. A sustentabilidade parece ter aqui um papel central, é a partir dela que tudo se está a reorganizar. (BB, CM)

 

Bruno Baldaia

 

© Sérgio Gomes / Mais do que Casas – Encontro Chamada de Ideias – Abril 2074 #3, Colégio das Artes – Universidade de Coimbra