Mais
do que
Casas

ISMAT

Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes

© Francisco Ascensão, 2020

Cidade do Acolhimento

A crise habitacional que Portugal enfrenta comporta variáveis económicas, políticas, demográficas, culturais e socias, com especificidades próprias dependendo da sua posição geográfica. O Mestrado Integrado em Arquitectura do ISMAT acolhe o desafio Mais do que Casas, situando-o da cidade onde se insere: Portimão. Esta é uma cidade marcada sobretudo pela multiculturalidade (das 60.000 pessoas residentes, 20% são estrangeiras) e pelo o turismo (com capacidade para acolher 40.000 pessoas). E, curiosamente, pela disponibilidade de habitações: das 50.000 existentes, apenas metade é de residência habitual, e da restante, 10% está vaga ou disponível para arrendamento ou venda. Poder-se-á argumentar que a crise habitacional, que também se faz sentir nesta região, dificilmente será ultrapassada com a construção de mais casas e que o problema é sobretudo político e económico. Com a agravante de que, segundo os modelos de 'desenvolvimento' actuais, mais construção significa contribuir para outras urgências que nos trouxeram ao ponto crítico em que nos encontramos hoje. Como pode, então, a arquitectura enquanto disciplina, intervir?

O nosso olhar recairá sobre a cidade como resultado das relações de poder, sobretudo do turismo e economia, mas também como manifestação política, e o modo como essas forças materializam e configuram o espaço urbano (e que de algum modo também explica o desordenamento pelo qual o Algarve é, também, infamemente reconhecido). O objectivo é identificar essas particularidades de habitar numa geografia turística e o seu impacto nas paisagens social, económica, urbana, ecológica e laboral. Tentar-se-á expor as fragilidades de um modelo para proporcionar a mudança, tornando evidente algumas das forças que conduziram a esta crise. O que significa, também, revelar opções alternativas para que as escolhas futuras sejam mais informadas. Mas terá igualmente atenção aos pequenos eventos e ocupações do espaço público, sintomáticos de alterações nas apropriações urbanas, modos de usar outros que ampliam os espaços domésticos e multiplicam as possibilidades de presença pública. Diferentes culturas de estar na cidade e usar o espaço que se quer disponível para todos, converte estas manifestações em meios de representação, dando visibilidade a distintas maneiras de viver e com a qual também se pode aprender. Aquilo que se propõe desenvolver no âmbito deste Programa é uma cidade do acolhimento.
O trabalho será realizado, de forma transdisciplinar, pelos estudantes do 1.º ciclo, e será, em si, uma experiência pedagógica, permitindo troca de conhecimentos e complementaridade entre os exercícios das unidades curriculares dos diferentes anos lectivos, articulando disciplinas (ditas) teóricas e práticas: Crítica e Estética da Arquitectura, Desenho Urbano e Teoria da Arquitectura. Este estudo permitirá não só uma análise e reflexão crítica sobre o que que é habitar em sentido lato, desenvolvendo uma metodologia participativa e propositiva de hipóteses que permitam, espera-se, contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que habitam a cidade de Portimão, mas também reflectir sobre qual a função social dos arquitectos e da nossa como cidadãos.

Propostas de Trabalho

As Forças Invisíveis

Vítor Alves
Nadir Bonaccorso

Desde meados do século XX que o turismo se assume como principal força transformadora da paisagem urbana do Algarve. Com impactos significativos no modo como a cidade é habitada, dar-se-á mesmo o caso de, em algumas circunstâncias, não se fazer uma substancial distinção entre uma indústria e a região de Portugal Continental – uma coincidência que se cumpre do barlavento ao sotavento. A abordagem aqui proposta procura precisamente distinguir a habitual coincidência, para que se possa estudar os efeitos do turismo no retângulo algarvio sem os excessos das generalizações. Propõe-se, assim, desviar o olhar do protagonista do fenómeno – a unidade de alojamento – e determo-nos no que permite e alimenta a possibilidade da sua existência. Em vez de concentrar os esforços na análise dos objectos turísticos, estuda-se o que os viabiliza, o que geralmente não se vê, mas que torna possível a experiência do hóspede: redes de abastecimento, sistemas de transportes, organizações urbanas, mas também atracções naturais, equipamentos sazonais, eventos anuais ou infra-estruturas desportivas que coexistem paralelamente – por vezes de modo quase indiferente – ao quotidiano dos residentes. Tomando como caso de estudo a área de influência da cidade de Portimão, estudam-se as redes invisíveis do turismo e o impacto que têm no habitar de uma população.