Mais
do que
Casas

Encontro 1

07.12.2024 | CCB - Garagem Sul, Exposição 'Habitar Lisboa'

E se todos, ao mesmo tempo, pensássemos sobre o problema da habitação em Portugal? Foi quase isso o que se organizou no dia 7 de dezembro no interior da exposição ‘Habitar Lisboa’ no Centro de Arquitetura | Garagem Sul do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. À primeira Chamada de Ideias do Mais do que Casas compareceram Escolas de Arquitectura, de Artes Plásticas, de Arquitectura Paisagista, de Engenharia. Vieram de todo o país continental. A primeira impressão que se regista do Encontro é a escala, a dimensão e a massa. Grupos de alunos acompanhados pelos seus professores apresentaram os seus trabalhos e também a forma como cada Faculdade entendeu integrar nos seus programas a sua participação no Mais do que Casas. Existe, como seria expectável, uma enorme diversidade de abordagens, mas em comum uma vontade de abordar as questões da habitação de uma forma mais profunda. Sendo verdade que a habitação (individual ou colectiva) é um programa que nunca está ausente dos curricula dos cursos de Arquitectura, foi possível perceber que houve pela parte de todos uma preocupação em considerar o momento concreto que se vive. Por um lado, a consciência da urgência do problema, que deu origem a uma discussão alargada nos meios de comunicação social, mas também a consciência de que este é um tema político (que implicou um programa específico do Governo) e que por isso tem o seu lugar de discussão muito mais próximo das possibilidades de concretização do que da identificação das situações às quais é preciso dar resposta.

O Mais do que Casas foi abordado de formas muito diversas: como um programa vertical presente em todos os anos do Curso ou organizado em torno de um workshop; por aproximação, integrando o seu desafio nos programas de Unidades Curriculares que já abordavam temas próximos destes; por articulação, envolvendo UC’s diversas por vezes em cursos distintos, acolhendo tematicamente o desafio; por desvio, criando uma situação nova nos programas habitualmente abordados. 

De uma forma generalizada foi possível igualmente observar a preocupação em entender a habitação de uma forma muito mais alargada do que a sua redução à investigação sobre modelos tipológicos ou sobre a sua eficiência. Também se discutiram, naturalmente, mas há a percepção das várias dimensões que habitar implica. A relação com a cidade de uma forma mais alargada, seja topográfica, formal, com a dimensão infraestrutural que a condiciona, com as questões que a sustentabilidade ambiental levanta, com os modelos económicos que vão organizando o território. Com a dimensão legislativa e a intervenção que tem na configuração nos ambientes em que vivemos, com os materiais e formas de construção. Cada Escola organiza a sua abordagem em função do meio académico onde se insere convocando o conhecimento a que pode ter acesso o que amplia o âmbito da análise e permite, nem que seja por um momento, retirá-la da sua discussão como um problema exclusivamente arquitectónico e articular o desenho do habitar com o pensamento que sobre ele se possa fazer a partir de várias e diversas origens.

Outra evidência foi perceber que a diversidade geográfica das Escolas trouxe também a correspondente diversidade de situações. Pensar a habitação em ambiente urbano denso, em ambiente rural ou periurbano, em centro histórico, em periferia não consolidada e em crescimento. Pensar o território desocupado, a paisagem. Também há uma grande diversidade de escalas. É possível perceber que havendo princípios condutores, fios comuns, situações próximas, não há soluções universais nem vontade de as encontrar, há sim uma consciência clara de que as questões discutidas têm soluções específicas e elas reflectem o que é habitar um lugar concreto. Num momento em que a política procura soluções universais para um problema tão complexo é importante compreender que os arquitectos a isso contrapõem o entendimento dos lugares para encontrar as respostas que lhes servem.

No final da sessão ficou igualmente a ideia de que esta iniciativa criou uma disrupção que obriga a alguma reflexão. Em primeiro lugar os alunos puderam apresentar e discutir os seus trabalhos com colegas de outras Escolas e outras cidades. Sair por isso de um quotidiano e aceitar perturbá-lo. Só por isso é já um facto relevante para quem esteve presente. Mas o desafio foi também feito às Escolas que se dispuseram ao mesmo, sair de um quotidiano e aceitar perturbá-lo. Encontrar estes lugares de encontro e discussão e formas de participar nas comunidades onde nos inserimos de uma maneira mais implicada e mais consequente. Dificilmente se encontraria para isso um melhor propósito do que celebrar os 50 anos do 25 de abril.

Bruno Baldaia

 

NUCLEO I / Relator Rodrigo Rio, com moderação de Filipa Guerreiro

50 PERGUNTAS SOBRE O HABITAR CONTEMPORÂNEO

FBAUL – Departamento de Arte Multimédia / FAUL –  Rogério Taveira, Jorge Spencer , Alessia Allegri, Tiago Mota Saraiva

O programa conjunto, apresentado pelas duas faculdades, consiste num projeto que expõe um conjunto de 50 questões/provocações atuais sobre o tema da habitação, desenvolvido durante o primeiro semestre, acompanhando a componente prática da cadeira de Projeto 3. Um trabalho de reflexão e partilha que convergiu num booklet com perguntas/inquietações/intrigas.

O trabalho seguirá com os alunos do curso de design da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa que complementarão graficamente os booklets e as redes sociais do projeto. Como trabalho final irão apresentar um vídeo com características experimentais para transmitir a componente crítica que se privilegiou neste trabalho sobre a habitação, através de uma discussão aberta e livre.

 

ATELIER 3C – PROGRAMAS EMERGENTES

EAAD – José Capela, João Pereira

A cadeira de Projeto 5 debruçou-se sobre o tema da habitação. Os alunos investigaram os concursos públicos dentro do tema da habitação, economia e sustentabilidade, onde iriam participar. Para a realização deste trabalho, a investigação incidiu nas práticas diárias das pessoas de diferentes gerações, as suas necessidades e costumes, e como estas se relacionam com os espaços. O concurso de Los Angeles propunha combater o isolamento dos idosos através de um projeto de arquitetura. 

Através das premissas do concurso referido anteriormente, os alunos aplicaram as suas investigações anteriores num projeto em território nacional, cujo objetivo era, para alem de resolver o problema de isolamento dos idosos, também apresentar soluções para a crise de habitação em Portugal. Assim, o projeto procuraria descentralizar, combinar as suas zonas de residência dos idosos com outras gerações, criando várias tipologias, entre o cruzamento e intercomunicação das gerações, nos mesmos espaços comuns.

 

CIDADE-ABRIGO

UFP – Sara Sucena, João Ferreira, Beatriz Vieira, Márcia Monteiro, Maksym Matros

O projeto de intervenção urbanística tem principal foco no problema das pessoas em condição de sem-abrigo, em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa, pretendendo o contacto direto com pessoas sem-abrigo ligadas à instituição. Assim, entendendo as suas necessidades e dificuldades, procura melhor responder ao problema e proporcionar soluções através da arquitetura.

O projeto Cidade-Abrigo começou por fazer um levantamento dos edifícios abandonados da zona, em paralelo ao projeto de agregação de corredores verdes à cidade, bem como uma requalificação dos seu aquíferos. 

 

ELEMENTOS CONSTRUTIVOS NA HABITAÇÃO.

ADEQUAÇÃO DE MATERIAIS ÀS CASAS DO FUTURO

UA – Ana Velosa

Curso de Engenharia Civil de Aveiro que, dentro do programa ‘Mais do que Casas’, debruçou-se sobre os temas da legislação a nível de construção e de programa e como esta influencia o projeto. A legislação em Portugal foi apresentada como bastante rígida e desatualizada, que impede a progressão de boas propostas de projetos que poderiam resolver alguns dos problemas principais da sustentabilidade e habitação contemporâneos. Foi feita uma intensa reflexão sobre o progresso da legislação e da construção neste sentido.

 

CONSTRUÇÃO OFFSITE, O EDIFÍCIO COMO PRODUTO INDUSTRIAL

FEUP – Bárbara Rangel

Dois cursos que conjugam as áreas da arquitetura e da engenharia e que, portanto, se focam nos desafios da construção. Projetos muito ligados à pre-fabricação, com grande atenção à eficiência energética das habitações.

Foram apresentadas propostas de industrialização e pre-fabricação para resolver os problemas da habitação em Portugal. O trabalho desde o detalhe de programar o processo de transporte, à montagem dos objetos pré-fabricados para reduzir o custo, o impacto, e a pegada carbónica da construção. O projeto culmina numa residência para alunos nómadas.

Foram levantadas questões como: não teremos primeiro de reabilitar o construído antes de construir de novo? Os métodos de pré-fabricação mais rápidos e baratos não vão contra o tema da sustentabilidade?

 

AÇÃO #1 – HABITAR EM REPÚBLICAS

DARQ-UC – Luís Miguel Correia

Os 5 anos do curso de Arquitetura em Coimbra desenvolvem os trabalhos no âmbito das questões ligadas à habitação, seguindo a proposta do ‘Mais do que Casas’. O primeiro ano de projeto focou-se na questão do alojamento estudantil em Coimbra. Foram-nos apresentadas as diferentes formas de alojamento na cidade, desde as repúblicas, a residências universitárias de pequena escala e a conjuntos de habitação tradicionais.

A questão do centro histórico degradado e da importância das residências se centrarem nesta zona foi o proposto aos estudantes. Assim, os alunos são desafiados a perceber as várias tipologias de residência de estudantes e a elaborar uma proposta de um conjunto de repúblicas, pensando assim questões de partilha coletiva de espaços e de habitação.

 

ATELIER 1C – SUSTENTABILIDADE

EAAD – Pedro Bandeira, Margarida Pinho

Na Universidade do Minho, os alunos foram desafiados a combater o esvaziamento do território interior de Portugal através de projetos de reabilitação. Esta reabilitação tinha premissas de sustentabilidade e desenvolveu-se a partir da escolha de objetos arquitetónicos degradados ou desatualizados e consequente processo de reconversão.

Para o desenvolvimento deste trabalho, o contacto com o território foi essencial para a verdadeira perceção do problema e para alcançar as soluções.

 

AÇÃO #5 – HABITAR INTERNACIONAL

DARQ-UC – Joaquim Almeida

O quinto ano do curso de Arquitetura em Coimbra trabalhou sobre um projeto de coliving, onde a intenção é chegar a uma proposta urbana de habitação. Essa habitação vai desde coletiva até estudantil, e desde reabilitação até construção nova.

Existiu uma grande preocupação com o desenho dos módulos de habitação, de modo que fossem flexíveis e que existisse uma grande variedade destes de forma a dar resposta a uma vasta faixa da população. Os espaços comuns devem ser frequentados por pessoas de todas as gerações, e por isso importa perceber como pode a arquitetura ser agente agregador social.

 

RETIRO ESPIRITUAL – ESPAÇO DE CONTEMPLAÇÃO E INTROSPEÇÃO COM ACOMODAÇÕES TEMPORÁRIAS PARA 7 PEREGRINOS

ULL – Filipe Quaresma, Hugo Nazareth Fernandes, Luísa Paiva Sequeira, Nuno Griff

Um trabalho de primeiro ano, onde os alunos foram desafiados a refletir sobre as diferentes formas de habitação, principalmente as menos comuns. O projeto em questão era um retiro e abrigo espiritual no parque de Monsanto. Os alunos tiveram de perceber quais as necessidades e condicionantes de um género de habitação de pouca duração e com pouca infraestrutura.

 

 

NUCLEO II / Relatora Bárbara Rodrigues, com moderação de Luís Tavares Pereira

AÇÃO #3 – HABITAR A MEMÓRIA

DARQ / ISA – João Mendes Ribeiro, Teresa Alfaiate, Leonor Silveira (DARQ), Mariana Abreu (ISA)

Os alunos de Coimbra desenvolvem ao longo do ano uma proposta de intervenção numa zona de caracter industrial na cidade autóctone. O exercício tem como objetivo integrar as premissas de reabilitação, ecologia e circularidade em projeto de arquitetura promovendo simultaneamente o diálogo com outras áreas disciplinares, como a de paisagismo. O programa incide especialmente sobre a premissa da Habitação, procurando questionar a maneira de a pensar e conceber, as necessidades das “diferentes agregações de habitantes (familiares ou outras), podendo constituir células coletivas para diversos utilizadores e/ou células individuais, apenas para 1 habitante.”

Uma questão a salientar é o impacto da demolição, apresentada no enunciado, que revela a preocupação com a sustentabilidade e a coesão no pensamento de projeto, entre a destruição e a preservação de edifícios, para além da estética.

 

ARQUITECTURA E IDEOLOGIA, SOBRE A POSSIBILIDADE DE UM DEVIR SUSTENTÁVEL: IMAGINAÇÃO. DO SUPORTE VIVENCIAL PARA A CONSTITUIÇÃO DE UMA COMUNIDADE (MONTEMOR, ALENTEJO) – A ESTAÇÃO COOPERATIVA DE CASA BRANCA

FA-UL – Daniel Maurício Santos de Jesus

Os alunos do 5º ano da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa debruçaram-se sobre o conceito de ideologia no campo da arquitetura. O docente transmite a preocupação sobre a transformação da vida humana ser superior à capacidade de resposta da arquitetura e questiona o papel da universidade na capacitação técnica dos alunos e na desconstrução daquilo que é a atividade do arquiteto. 

O programa ambiciona dar ferramentas aos alunos de arquitetura para que consigam compreender as dificuldades técnicas de construção e da reabilitação, com alguma bibliografia política e ideológica, compreendendo a sua implicação no campo da arquitetura. Desse modo, os alunos são convidados a desenvolver um projeto urbanístico, a uma escala pequena – de aldeia, na cooperativa da Casa Branca em Montemor. O projeto incide na reabilitação do património devoluto pertencente às Infraestruturas de Portugal obrigando à compreensão daquela comunidade, à história da mesma e da luta da cooperativa para adquirir os imóveis inseridos no programa. Os alunos são também convidados a participar na reabilitação em curso de alguns imóveis na área de estudo, a desenhar mobiliário urbano e a envolver-se ativamente na vida da comunidade, com almoços na cozinha comunitária, e partilhando algumas atividades domésticas da cooperativa.

 

ATELIER 3A – ESPAÇO PÚBLICO

EAAD – Ivo Oliveira, Luís Encarnação

A proposta dos alunos da EAAD passa por pensar propostas de convivência de automóveis e pessoas numa tentativa de repensar a vida em 2074. Levantaram-se temas, em debate, sobre se deveríamos continuar a pensar numa sociedade centrada no transporte individual ou se devíamos projetar considerando que o carro vai ficar obsoleto.

 

DESIGN COM E PARA A COMUNIDADE

FBAUL – Departamento Design de Equipamento – Ana Thudichum Vasconcelos, Ana Lia Santos , Carla Paoliello, Vasco Santos Lima, Marta José

Os alunos da Faculdade de Belas Artes da Faculdade de Lisboa apresentaram o trabalho que têm vindo a desenvolver nos passados três meses que consiste em desenvolver projetos interativos para a comunidade do Torrão, uma freguesia em Alcácer do Sal. Foram apresentados diversos projetos que abrangem diversas áreas disciplinares desenvolvidos por vários grupos de alunos.

 

REALIDADES REMOTAS – MÉRTOLA

FBAUL – Mestrado em Design para a Sustentabilidade – João Cruz, Inês Veiga

A proposta dos docentes da FBAUL no Mestrado em Design para a Sustentabilidade é estudar a cidade de Mértola em 2074. Ao analisar um território de baixa densidade procura-se compreender a diferença entre um território de baixa e alta densidade populacional, os fluxos migratórios, consequências duma população envelhecida, entre outros. O objetivo do trabalho académico seria compreender que mecanismos se podem desenvolver para tentar densificar este território e manter uma população mínima para que esta zona continue a ter vida durante todo o ano.

 

A CIDADE INVISÍVEL (DE CASCAIS)

FA-UL – Pedro Belo Ravara, Amer Obied

O projeto da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa tem como intenção a analise de uma zona de Cascais que tem sofrido com o fenómeno de turistificação com o objetivo de compreender quais são as intenções camarárias para essa zona e quais são as reais necessidades da área de intervenção. A apresentação dividiu-se em três grupos de alunos que apresentaram três propostas destintas salientando a apresentação final que ambicionava a fragmentação e reapropriação do centro comercial Cascais Villa reconvertendo o edifício num edifício de habitação coletiva.

 

PERTO DA VISTA. INTERVIR EM SÃO CRISTÓVÃO, MOURARIA

EARTES – João Rocha, Atelier RUA – Francisco Freitas, Luís Valente

Os alunos da EARTES estão a trabalhar a zona da Mouraria colaborando com associações locais para melhor compreender as características não só morfológicas mas também sociais da zona de intervenção. O exercício de projeto convida os alunos a interagirem com temas como densidade urbana, áreas de loteamento mínimas e sociedade heterogénea. Os projetos estão a ser desenvolvidos individualmente e têm zonas de intervenção pré-definidas.

Alguns projetos apresentados por alunos compreendem nas intenções de projeto habitações para casos de curta estadia como por exemplo quartos e serviços mínimos partilhados. Essa questão trouxe alguma discussão pois numa zona altamente turistificada e sem serviços de educação que justificassem essas tipologias para habitação estudantil pode criar-se condições para que essas habitações sirvam o mercado do turismo, gentrificando ainda mais um dos bairros mais sacrificados de Lisboa.

 

REGRESSANDO À CIDADE HABITACIONAL DA DÉCADA DE 1970

ISCTE – João Maria Trindade, José Maria Cumbre, Nuno Caetano, Paulo Tormenta Pinto, Pedro Pinto

O último grupo da sessão apresentou a proposta em desenvolvimento desde o ano letivo passado. A proposta passa por uma análise das políticas públicas de habitação pré e pós-revolução de abril e os projetos que essas políticas promoveram. Quer-se ainda compreender, à luz da atualidade, de que maneira é que esses projetos se inserem no tecido urbano e a qualidade do espaço público envolvente.

 

DEBATE

O debate final trouxe a problemática do SAAL, e quais seriam as condições ideias para que este processo se repetisse perante a crise na habitação que Portugal sofre neste momento. Constatou-se que o processo SAAL aconteceu durante um período muito especifico da história, o PREC, onde todos os ensinamentos e dados adquiridos durante a ditadura eram postos em causa, onde se desconstruíam dogmas e a ideologia vigente queria o bem comum. Durante esse momento histórico o direito à propriedade foi repensado e substituído pelo direito à habitação: terras foram expropriadas, pessoas organizaram-se em Associações de Moradores e rapidamente casas modestas substituíam as barracas.

Imaginamos que talvez o papel do arquiteto seja desenvolver mecanismos que ajudem ao construir dum conhecimento coletivo e duma solidariedade capaz de fazer frente à crise da habitação, capaz de por em causa o direito à propriedade. Inquiriu-se como é que o arquiteto pode ter um papel ativo na mudança e uma resposta introduzida na discussão foi a participação em ciclos de discussão, de decisão e de construção de poder popular e de poder na área científica, a partilha de conhecimento e a organização com outras associações pode ser um caminho possível a seguir. Reiterou-se que o arquiteto não pode nem consegue trabalhar sozinho e que a mudança não se faz só.

 

 

NUCLEO III / Relatora Inês Lema, com moderação de Bruno Baldaia

HABITAR COMO APRENDIZAGEM. DA RUA MARIA PIA AO VALE DE ALCÂNTARA. CASAS, JARDINS E SOCALCOS

EARTES – João Matos, Pedro Pacheco

No contexto da EARTES, introduz-se o conceito de habitação como um processo de aprendizagem e experimentação. A proposta dos alunos abrange a rua Maria Pia até o vale de Alcântara, explorando um espaço de apropriação que convida à ocupação entre a rua e o vale. Destaca-se a ênfase na presença expressiva do natural na cidade e a redefinição da fachada para reinventar o edifício existente. A proposta procura trazer a natureza do vale para a encosta, integrar os moradores pessoalmente e reivindicar o edifício existente, mantendo viva a memória fundamental para a construção da cidade.

 

UMA CASA PARA TODOS

ISCTE – Pedro Mendes

Na Iscte, a turma responde ao programa com um estudo de maquetes de casos contemporâneos, apostando na tipologia, relação com a cidade e espaço público. Destaca-se a oportunidade de trabalhar o espaço público de forma aberta e integrada, evitando fechar esse espaço como princípio da proposta.

 

CIDADE COMO CASA

FAAULN-PORTO – Ricardo Vieira de Melo, Sérgio Amorim, Alexandra Saraiva, João Cardoso, Anabela Mesquita Loureiro, Beatriz Bogas Barbosa Ferreira, Bruna Pedrosa Guedes, Cláudio Nuno Mesquita Vasconcelos,  Isla Viana Oliphant, Iva Fulko Selôres Castro, Kássia Kerene Oliveira Freitas, Maria João da Silva Amorim Sara Filipe Santos Tavares, Ana Perpétua de Sousa Duarte, Constança Alcina Pereira Gonçalves, Diana de Sousa Cardoso, Emanuel Alexandre Ressurreição Freitas, Inês de Morais Maia Pires, Ricardo Manuel Simões da Cruz, Sandro Carneiro Eusébio, Tomás Tavares Fonseca

O projeto ‘Cidade Como Casa’ da FAAULN concentra-se na cidade consolidada, explorando a mobilidade urbana e abordando desafios como a VCI ‘quebrar’ a cidade e os ecossistemas. Utilizando Barcelona como referência, a proposta tenta fechar a malha urbana a veículos, transformar bairros em espaços predominantemente pedestres e verticalizar os espaços verdes nos edifícios.

 

TORRE PLURIFAMILIAR , COOPERATIVA DE HABITAÇÃO À RUA GOMES FREIRE

ULL – Filipa Oliveira Antunes, Maria Rita Pais, Bernardo Vaz Pinto, Rui Nogueira Simões

Os alunos exploram tipologias de habitação em morfologias urbanas verticais, adicionando 30% da área de habitação. Destaca-se uma abordagem que valoriza a escala da rua e a proximidade com a torre, equilibrando a presença vertical da estrutura com o ambiente urbano. Outra abordagem concebe a malha urbana como uma quadrícula, integrando árvores como pilares, proporcionando uma relação simbiótica com a estrutura arquitetônica.

 

AÇÃO #4 – HABITAR INTERSOCIAL E INTERCULTURAL

DARQ – José Fernando Gonçalves, Nuno Grande, Pedro Maurício Borges

A 1ª turma do 4º ano da DARQ enfoca a habitação, abordando desde a análise do território até o desenvolvimento construtivo dos projetos. O relato destaca a atenção para mecanismos urbanos, pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças. A turma procura transformar bairros existentes em áreas mais integradas e inclusivas, com ênfase na interação com a população jovem.

A 2ª turma concentra-se em Pombal, desenhando nas ‘entrelinhas’ da cidade, enfrentando o desafio das infraestruturas quebrarem as vias principais. O projeto propõe a habitação como forma de cicatrização, explorando habitação compacta e densa, diálogo com a comunidade, discutindo a questão da desgatização e criação de espaços públicos inclusivos.

A 3ª turma estuda, analisa, procura compreender o território de Cova Gala e a sua comunidade de modo a entender a necessidade de um plano de urbanização e o que este mesmo constituirá. Entendem as complexidades geográficas que contribuem para a organização desta comunidade, e projetam com o objetivo de criar uma habitação que se funda com a atividade local já existente dos habitantes. Propõem uma nova circulação, a pé ou de bicicleta, e edifícios com laje contínua e espaços vazios, de modo a criar pátios, cobertos ou expostos, para uma utilidade diversa.

 

EXPERIÊNCIA #2 – SMILE-VISÕES PARA O HABITAR EM TERRITÓRIOS RURAIS PERI-URBANAS

FAAULN-FAMALICÃO – Rogério Amoêda, Maria Tavares, Carla Carvalho, Helena Silva, Manuel Rodrigues de Sousa

O projeto SMIILE aborda a interação entre a ruralidade e urbanização em Famalicão, focando em áreas peri-urbanas. Destaca-se a inclusividade, evolutividade e sustentabilidade na busca por uma integração comunitária e o reaproveitamento de espaço.

 

PLANTAR O BAIRRO

FCUP – Isabel Martinho da Silva, Luís Guedes de Carvalho, Ana Valéria Borysenko, João Pedro Alves Soares, Margarida Rocha Brum, Marta Ribeiro Dias, Rita Baptista de Moura 

No estudo sobre o Bairro da Biquinha em Matosinhos, a FCUP destaca a requalificação dos espaços exteriores, priorizando a criação de melhores espaços coletivos a partir da despavimentação. O projeto utiliza o caminho pedonal como ponto focal, promovendo a apropriação do espaço comum pelos habitantes.

 

DEBATE

O debate reflete sobre a continuidade da preocupação do ‘Mais do que Casas’ no contexto do curso de arquitetura. Destaca-se a necessidade de a arquitetura transcender a vaidade, enfatizando a transformação efetiva. Discussões sobre o processo participativo, a conjuntura política, a transformação da realidade e a busca por novas metodologias de projeto evidenciam um compromisso constante com uma prática arquitetónica mais comprometida e transformadora.

A Chamada de Ideias-Abril 2074 – desponta a virtude e diversidade de abordagens das diferentes faculdades, demonstrando a vitalidade e o compromisso dos alunos e professores a olhar para trás, agora.

 

 

NUCLEO IV / Relatora Catarina Coutinho, com moderação de Joaquim Moreno

TOWN & COUNTRY: A CONSTRUÇÃO DE UMA COMUNIDADE – AREZ, ÁLCACER DO SAL

EARTES – João Soares, Paulo Martins Barata – Atelier Promontório, Nuno Rodrigues – Atelier Oitoo, Izabella Arraiano, Mónica Rodrigues, José Mora, Lucinda Pompeu

Apresenta-se o programa adaptado ao Laboratório de 5ºano, em que o grande tema iminente é o urbano. Assim, propõe-se a construção de uma aldeia alentejana junto ao Sado de modo a servir a zona de Alcácer do Sal. João Soares e Paulo Barata apresentam os princípios chave, o programa e as referências – de modo a perceber o caminho que se quer seguir. 

De seguida, duas duplas de estudantes passam a apresentar a sua resposta a este desafio. A partir de uma procura que visa entender a identidade das aldeias, realizam-se os primeiros ensaios / experiências de morfologia. No que se refere ao lugar, a proposta consiste no desenho de uma nova frente marginal, com a premissa de adaptar a aldeia existente ao programa proposto. A inserção deste percurso ao longo da encosta permite ligar o programa à área de arrozais – muito presente na região. 

Esta apresentação é feita através de fotografias dos desenhos e esquemas de processo, sendo também apresentadas presencialmente as maquetes realizadas.

 

O OUTRO QUARTO

UALG – Paula Gomes da Silva

Expõem-se três propostas integradas no curso de Arquitetura Paisagista. A Proposta 1 diz respeito ao 2ºano de Licenciatura, no contexto da Casa; a Proposta 2 é incorporada no 2º ano de Mestrado, no contexto da Cidade; e a Proposta 3 é incluída na Pós-Graduação em Urbanismo, no contexto da Paisagem Rural. Nesta apresentação é exposta a primeira proposta mencionada. 

Sendo referido que não faz sentido repensar os próximos 50 anos sem pensar na crise climática, o programa ‘Mais do que Casas’ é pensado de forma muito literal, para além do espaço da Casa, apresentado por uma aluna de 2ºano, em representação da turma de 29 alunos. Sendo que, cada vez mais, as famílias vivem em casas sobrelotadas, a ‘ideia de outro quarto’ surge na medida em que o espaço público possa ser apropriado como uma extensão da casa. ‘Que espaços poderiam servir este propósito?’. É a partir desta premissa quecom a Câmara Municipal de Albufeira se irá concentrar o projeto na zona de Montechoro. Constata-se que é um espaço bastante degradado, não utilizado, mas com alguma vegetação. 

Temas como Biodiversidade, Inclusão, Neutralidade Carbónica, Estética vs Funcionalidade, entre outros, têm lugar nos projetos em desenvolvimento. 

 

AS REDES INVISÍVEIS

ISMAT – Vítor Alves, Nadir Bonaccorso, Sofia Gomes

A partir de uma análise crítica da realidade em que estão a trabalhar, é apresentado o programa integrado na unidade curricular de Desenho Urbano 1. 

Esta Unidade Curricular desenvolve o exercício de analisar Portimão – na tentativa de perceber a força em que resulta o turismo nessa zona. São apresentados os números resultantes dessa análise, constatando que o problema não é a falta de casas e que, numa certa altura do ano – julho e agosto – a taxa de turistas nesta zona excede o número de residentes. É ainda feita uma contextualização da evolução cronológica da cidade – desde a cidade romana, sec VX, XVI, (…), até uma previsão daquilo que será esta zona em 2050 (prevê que o rio volte a ganhar a sua própria forma). São identificados os núcleos de fluxos urbanos, e são analisados os hotéis e alojamentos locais onde se percebe, novamente, que os fluxos e os núcleos principais são onde estes têm mais presença. Percebe-se também que estes, maioritariamente, se encontram perto das estradas automóveis sendo que, consequentemente, os turistas não utilizam e preferem os transportes públicos. 

Com base na questão ‘como se habita numa cidade turística?’ entende-se, neste trabalho em desenvolvimento, que os próprios habitantes têm de se adaptar, havendo uma barreira da praia para a cidade.

 

DA PRAIA NOVA VAGA AO PALÁCIO DA AJUDA

ULL – Filipe Coutinho Quaresma, Rodrigo Hozer e Brito

Neste programa referente ao Projeto de 5º ano é escolhido um território que abrange uma área bastante grande, desde a Praia da Nova Vaga até ao Palácio da Ajuda. Assim, propõe-se desenvolver o projeto de acordo com uma problemática deste território detetada pelos alunos, sendo estes a escolher o próprio programa.

Segue-se a apresentação de alunos do projeto ‘Ainda’, em que a zona escolhida foi Belém – área consolidada, com muita história, e muito dinâmica – resultando numa multiplicidade de hipóteses. Identificam-se alguns lugares vagos que foram acontecendo com a expansão da cidade e a análise individual de cada um – a partir do critério de terrenos já loteados. É apresentada uma proposta de implantação para cada terreno, sendo que podem construir cerca de 200.000m2 – em áreas verdes, de lazer, ou outras. Trazem, assim, uma análise de um dos terrenos perto do Estádio do Restelo, atrás de um grande prédio com um talude de 20 metros. Depois de um contexto histórico do terreno, são demonstradas plantas de intervenção, cortes/alçados, diagramas de percursos – acessibilidades – geometria existente da envolvente e maquetes de acrílico e cartão – que acreditam dar ênfase aos pisos e contrastar com a envolvente.

 

CIDADE / ÁGUA / HABITAR

UAL – Inês Lobo

Através deste programa, a UAL passou a constituir um segundo ciclo de ensino. Desde o ano passado, as dissertações passaram a ser resultado de um conjunto de disciplinas que, no fim, conformam uma tese final. Partindo do tema ‘cidade / água / habitar’, é pensado o sistema hídrico da cidade e de que forma este condiciona o desenho da cidade e a forma como a habitamos. Este programa abrange cadeiras teórico-práticas, quatro ateliers de: projeto-tese, de projeto (autonomia em se propor o projeto de cada ano), de tecnologias de arquitetura e de paisagem.

É feita uma apresentação desta estrutura e resultados destas teses em formato de jornal – sendo as teses finais dos alunos a soma e consolidação destes artigos. Os temas partem sempre da forma como a água condiciona, ao longo da história, o crescimento da cidade, e são levantadas questões ao território – Estuário do Tejo –, já que Lisboa é uma grande cidade metropolitana e o seu centro é a água. São lançadas questões e estas dividem-se em quatro temas aos quais correspondem as reflexões. A proposta aos alunos de fazer um Manifesto – na Unidade Curricular de Projeto-Tese 1 – origina ‘resultados surpreendentes’. São explicados vários exemplos, sendo sempre manifestada a ideia de que são trabalhos prospetivos, no sentido em que não se fecham num território – ‘de Lisboa, para o Mundo’. 

Trabalhos e maquetes são expostos em paralelo a esta apresentação, tanto do ano anterior como também trabalhos ainda numa fase muito inicial. Todas estas questões em conjunto equacionam novas formas de habitar – casas para todos; a casa ideal para qualquer pessoa; a oportunidade de continuar e requalificar as nossas cidades. 

 

DEBATE 

Discutem-se os programas apresentados e qual o papel do estudante no desenvolvimento dos mesmos – o lugar da escola, o contributo do estudante e a aprendizagem coletiva. 

Debate em torno da formação do arquiteto, as diferentes metodologias e programas de cada escola e relação professor-aluno. Levantam-se dúvidas sobre o ensino da arquitetura nos dias de hoje. 

 

A JANGADA DE PEDRA

FA-UL – Jorge Mealha

É feito um ponto de situação do que o grupo de alunos da turma de 5ºano tem desenvolvido. A Jangada de Pedra introduz-se enquanto sentido figurado de um suporte. É tratada a relação com a água partindo de uma especulação de uma possibilidade de fazer um aterro fora de Lisboa – o último aterro de Lisboa. Resolver ou ter atitude crítica sobre o que aconteceu à Lisboa que normalmente falamos. 

São apresentados registos antigos de utilização de zonas que tiveram sempre relação direta com a água, percebendo que no século XX esta relação é cortada, uma infraestrutura continua industrializada, desde Cascais até a zona da Expo. Nessa reta, a zona do Jamor é o pretexto escolhido para este programa, questionando-se como é possível a realização de uma extensão e como se pensa um aterro que tenha um propósito industrial. 

São apresentados trabalhos com várias naturezas e metodologias:  maquetes exploratórias, esquissos, ferramentas habituais, sem preconceitos – da plasticina e do gesso às tecnologias. 

 

AÇÃO #2 – HABITAR O ESPAÇO PÚBLICO

DARQ – Armando Rabaça

Este programa é adaptado ao 2º ano do curso de Arquitetura, resultando no tema ‘A cidade: habitar o espaço público’. A ideia é consolidar o Largo das Amoreiras, projetando um equipamento de co-living. 

É apresentado um enquadramento de funcionamento da vila, os seus eixos principais e estruturação dos espaços públicos. 

Numa primeira fase, é realizado um levantamento da malha urbana a partir de desenhos e maquete à escala 1.500.

Pretende-se que se criem formas diferentes de habitar o espaço interior na tentativa de habitar o espaço público delimitando os largos. 

É feita uma apresentação mais detalhada de um dos estudantes, na qual se levantam problemáticas na tentativa de as resolver, com o objetivo de relacionar a história e memória da cidade. A extensão do interior para o exterior é uma relação muito importante sendo prioridade tratá-las com continuidade.

 

EXPERIÊNCIA #1 – HABITAÇÕES PARA O MAIOR NÚMERO | ENSAIOS SOBRE LUGARES EM PAUSA EM CONTEXTO URBANO

FAAULN-FAMALICÃO – Maria Tavares, Ricardo Freitas, César Moreira, Inês Pinto, Leonor de Sá Maia

Esta proposta “não é totalmente nova àquelas que costumam integrar nos programas desta escola”.

É apresentado o seu contexto urbano e geográfico de Vila Nova de Famalicão. Faz-se uma análise do número de habitantes e dos números de entradas e saídas diárias na cidade. Após os levantamentos dos quatro bairros selecionados, o trabalho concentra-se no centro da cidade. É uma zona que gera alguma dificuldade para os estudantes já que, na sua maioria, residem nos arredores.

Apesar de os trabalhos ainda estarem numa fase muito ensaísta, as estudantes apresentam bases de módulos que permitiram perceber o que era a habitação – entendendo áreas e espaços necessários. São demonstradas maquetes e esquemas de tipologias muito variadas.

Assim, é lançado o programa geral mas o estudante deverá acabar por defini-lo melhor, consoante o que achar pertinente. 

Nesta fase que terminará em fevereiro, há um conjunto de 5 conceitos que irão ajudar a concretizar e materializar o trabalho: infiltrar (abrir tecido urbano), intensificar (gerar novas dinâmicas urbanas), cruzar (permeabilidades), partilhar (novos espaços públicos) e colonizar (quando uma ou mais espécies povoam uma nova área – habitar, cultivar, frequentar, respeitar…). 

São defendidas 3 ideias chave que vem de há anos e temos de levar daqui a 50 anos: direito a habitação, direito ao lugar, direito à cidade. Isto posto em prática em estudantes que não vivem a cidade. Dada a pressão da cidade, precisamos de casas agora! É reforçada a importância de permanecer nos sítios, o direito à cidade, ideia de pertença de uma urbanidade que a cidade tem vindo a perder. Direito à cidade é a capacidade de nos sentirmos urbanos, na cidade que estamos a desenhar e a investir. 

 

REGENERANDO O DESENHO DA CIDADE

ESAP – Paolo Marcolin, António Barbosa, Fátima Fernandes

Apresenta-se o trabalho produzido entre o 4º e 5º ano: Uma Visão para a VCI. Partindo da ideia de habitar a cidade, trabalha-se na transformação de uma infraestrutura pesadíssima – criando uma rutura na cidade. Tem-se em vista dar à cidade uma nova urbanidade pela eliminação deste grande espaço e terreno que poderá passar a ser grande potencializador da vida urbana. 

Para isto os alunos tiveram de perceber a importância desta infraestrutura: uma autoestrada dentro da cidade do Porto – o que é que isto significa e qual é a diferença de um espaço urbano e de um espaço não urbano. O desafio passa por perceber como é que esta eliminação de fluxo automóvel e deste limite, se pode transformar num espaço em que o protagonista deixe ser o carro e seja o território da cidade.

Assim, o 4º ano desenvolve serviços e equipamentos de bairro e o 5º ano desenvolve uma relação com o desenvolvimento e reflexão com os bairros pendurados nesta infraestrutura. São encontrados lugares que não tem capacidade de gerar riqueza para a vida na cidade – lugares de armazenamento. 

Surge uma série de bairros identificados por alunos, conjuntos urbanos em que o 5º ano vai trabalhar, nas novas condições que estes conjuntos tem quando deixarem de ter esta muralha. Ideia de metamorfosear estes contextos urbanos. Precisamos de casas que respirem e espaços que não sejam este muro de poluição. 

 

DEBATE

É levantada a pertinência deste programa: O Mais do que Casas serve para nos ajudar a pensar coletivamente. Questiona-se o que terá acontecido à nossa ambição revolucionária e como queremos projetar essa ambição nos próximos 50 anos.

Debate em torno da questão da crise da habitação. Como misturamos estas problemáticas? Para onde vamos a seguir? O que é que mudou? O que vai mudar? 

São discutidas as novas tipologias e de que forma as devemos ter em conta no desenho da habitação, adaptando as tipologias tradicionais aos novos modos de habitar. 

Apelo e introdução dos estudantes na discussão: como querem viver?

O debate encerra com a grande questão: O que é boa arquitetura?

 

 

 

Encontro 2

06.03.2024 | FAUP

As conclusões da Chamada de Ideias #1, reafirmam-se e revigoram-se neste segundo momento. Neste, foram os alunos que protagonizaram os principais momentos através da apresentação dos trabalhos executados e em progresso. O estado de maturidade das propostas está dependente da abordagem que cada escola fez do desafio lançado e do modo como o projeto foi integrado nos planos de estudos. De qualquer modo, é unânime o reconhecimento das virtudes do Programa Mais do Que Casas que põe em confronto os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, as interpretações e orientação dos professores, das escolas e dos cursos, descentrando o olhar de um universo restrito, alargando-o e complementando com outras realidades, escalas e interpretação de umas e outras.

As apresentações feitas pelos alunos foram, independentemente do ano do curso frequentado, claras, objetivas, suportadas por materiais gráficos adequados e, na generalidade, cumpriram os tempos de apresentação pré-definidos. Releva-se o interesse, empenho e até entusiasmo colocado nesta sessão.

Procuraremos aqui reunir em vários grupos temáticos as apresentações a que pudemos assistir:

 

Diversidade de escalas: 

Quase todos os trabalhos abordam as várias escalas, do fogo à cidade. 

 

Habitar a Cidade/A Cidade como Casa.

Verificou-se, na maioria das apresentações, uma incidência e interesse sobre o espaço público tentando dar-lhe qualidades específicas que ultrapassem o conceito vazio de ‘espaços verdes’. A ligação entre o privado e o público, chamando o público para dentro do privado, através da proposta de introdução de programas abertos aos cidadãos relacionados com espaços habitacionais ou, noutros casos, tão só a identificação da necessidade de romper barreiras físicas e sociais que se manifestam na esfera pública, são preocupações refletidas nos trabalhos apresentados e em curso.

 

A Habitação. 

Noutros casos o trabalho incide sobre o fogo e sobre a sua tipologia, ainda que não deixe de ser visível a preocupação da articulação com a ‘rua’, por vezes numa dimensão restrita, apenas  preocupada com relações de proximidade. Nestes trabalhos ensaiam-se configurações adaptadas a habitantes particulares: estudantes, grupos de amigos, sem abrigo, grupos étnicos, comunidades específicas, emigrantes, etc. A reflexão feita, patente nos trabalhos apresentados, aponta modelos que favorecem a multiculturalidade e o interclassismo, explorando soluções de tipologias evolutivas e flexíveis, com programas de base colaborativa, dando atenção às formas de agregação para proporcionar a existência de espaços de sociabilidade adaptados às diferentes manifestações sociais e culturais. 

 

Infraestruturas: 

Grandes infraestruturas de Mobilidade:

As grandes infraestruturas de mobilidade, vias coletoras, linhas férreas, que provocam situações de rutura nos tecidos urbanos, foram temas de partida e de reflexão para muitos dos trabalhos. Os trabalhos estudam soluções urbanísticas e arquitetónicas para criar continuidades interpretando o espaço público como espaço de habitar. Observámos também nalgumas apresentações a possibilidade de trabalhar a obsolescência de infraestruturas urbanas (a Via de Cintura Interna no Porto foi um tema comum) e as formas como a cidade vai habitar estas transformações.

 

Infraestruturas azuis:

As linhas de água, entendidas como uma oportunidade para a criação de espaços de lazer, mas também como ecossistemas naturais essenciais para a criação de biodiversidade e de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, foram temas tratados pelos alunos. Viver o Rio, reconhecer e valorizar o património associado aos rios, estruturas hidráulicas e moinhos, foram temas referidos que se propõe continuar a desenvolver. No caso dos projetos que incidem na orla costeira, os trabalhos investigam soluções que se defendam e adaptem aos efeitos das alterações climáticas, nomeadamente o aumento do nível da água do mar e consequente reflexo na linha de costa.

 

A relação com a realidade

Na maioria das abordagens as propostas têm por base a análise tipo-morfológica dos territórios e a observação do seu funcionamento, usos e fluxos. Outras escolas optaram ainda por considerar, como matéria para informar o desenvolvimento do trabalho, a regulamentação urbanística e legal e ainda as opões de política urbana. Para tal, alguns dos cursos iniciam o trabalho pela análise crítica das opções para os diferentes territórios previstas nos instrumentos urbanísticos e documentos de política urbana para proporem alternativas. 

 

Turismo/Gentrificação

Os temas da gentrificação e do turismo tem tido um papel importante nas transformações recentes nas cidades e naturalmente aparecem refletidos em alguns trabalhos, em particular nos que se localizam nos grandes centros urbanos, Lisboa e Porto. Formas alternativas de turismo, que podem configurar oportunidades ou ameaças ao direito à habitação, aparecem ainda refletidas em áreas de pressão turística, sazonal e interna, como é o caso da Figueira da Foz. Também aqui se observa a necessidade de se estruturar uma visão crítica sobre estes processos e não apenas a tarefa de lhes dar forma desligada daquilo que os origina.

 

Multidisciplinaridade

O contributo das áreas do Design e das Artes Plásticas (representadas por cursos da FBAUP e da EAAD-UM) vem enriquecer a reflexão, alargando os conceitos do habitar e ajudando a refletir sobre o significado do abrigo e logo da habitação e do que a complementa ou está para além dela. Os trabalhos apresentados refletem ainda preocupações ambientais, suscitando a consciência crítica sobre o futuro do planeta. A contribuição de outras áreas como o urbanismo, as engenharias ou a arquitectura paisagista (UA, FEUP e FCUP) ajudam a compreender o habitar como um tema de muitos saberes – também por aí é evidente a importância da abertura e da participação na sua discussão.

 

Habitação: materiais e soluções construtivas 

Tendemos a secundarizar nestas discussões e reflexões as condições reais de implementação dos programas ou projectos a que chegamos. E, no entanto, é frequentemente na consideração pragmática das suas condições que podemos muitas vezes garantir a eficácia daquilo que propomos. Construir é uma condição concreta e assistimos a várias abordagens quer a novos materiais e sistemas, quer à recuperação de outros de que conhecemos pela História a sua adaptabilidade. Num momento em que a sustentabilidade nos faz reconsiderar um panorama a partir de um novo ponto de vista foi importante assistir a comunicações e debates que nos levam a intervir de forma diferente e reflectir qual o impacto que isso poderá ter sobre forma e linguagem, mas também sobre o impacto que percebemos na paisagem, nas cidades e na economia. 

 

Nuno Portas

Foram várias as apresentações que citaram ou se referiram a Nuno Portas e há todas as razões para que se torne, neste âmbito, uma personagem tão referenciável. É a figura-chave do Processo SAAL e é dos arquitectos portugueses mais empenhados na discussão da habitação fora de um universo estético estrito. A sua importância como pedagogo e divulgador de novos modelos urbanos foi referida, quer através de revisitas a intervenções do SAAL como na abordagem a políticas de cidade.

 

Tempo e registo

Foram várias as apresentações que compilaram referências para construir um novo olhar crítico sobre elas, de alguma forma assistimos agora a um ‘baralhar para voltar a dar’. Encaram-se elementos preexistentes como possibilidades de continuidade deixando cair o impulso de substituir o que existe sempre que uma mudança é necessária. A consideração do que existe, muito para lá do valor como património, apareceu frequentemente como ponto de partida aproveitando o seu potencial nas mais variadas formas – como material, como marca do tempo num lugar, como resgate, ou como possibilidade para modelos híbridos que se focam mais na continuidade do que na disrupção. Por aí o tempo, os registos, o arquivo, têm uma importância que conduz à construção de visões críticas sobre os modelos especulativos vigentes. A análise dos últimos cinquenta anos de modelos urbanos trouxe também a curiosidade de termos podido observar suportes distintos do habitual (a televisão e o cinema) como fonte de informação, já que esse também já é o seu tempo.

 

Arquitectura e ideologia

Muitas apresentações trouxeram à evidência que os modelos urbanos dependem de estruturas ideológicas que os sustentam, e não é possível analisar separadamente o impulso e o resultado. Também aqui se revisitaram autores e obras onde essa presença é explícita. É curioso verificar que num momento em que ideologias são desmontadas dos seus suportes e se considera que a única coisa absoluta é a relativização (e o deserto de pensamento sustentado que ela provoca), a necessidade de reorganizar os fragmentos que ficaram soltos de nexo e significado é um trabalho para os arquitectos hoje. Arquitectura e ideologia foi um tema explícito nestas sessões e ficámos com a percepção de que uma reorganização da disciplina está presente nas preocupações dos alunos e com um alcance mais profundo do que até há pouco tempo poderia ter sido possível antecipar. A sustentabilidade parece ter aqui um papel central, é a partir dela que tudo se está a reorganizar.

 

Bruno Baldaia e Conceição Melo

 

*os autores escrevem segundo o antigo Acordo Ortográfico

 

Encontro 3

02/03.05.2024 | DARQ-UC